Capítulo 1De acordo com as normas do crematório, não é permitido que os familiares assistam à cremação.Adriana Guerreiro, no entanto, pagou um valor considerável e, segurando com força o gélido leito de ferro, adentrou a sala de incineração.O ar era pesado, carregado com o cheiro de queimado e cinzas que flutuavam suavemente sob a luz do sol.Talvez fossem cinzas humanas.Em breve, sua querida filha também se tornaria assim.Adriana, envolta em um vestido preto longo que mal escondia sua figura delicada, estava com os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar, mas, naquele instante, pareciam estranhamente calmos.Ela estendeu a mão, tocando os dedos pálidos e rígidos cobertos por um lençol branco. Com cuidado, começou a rezar olhando para o corpo inerte da filha."Estela, espere por mim."Havia chegado a hora.Um funcionário aproximou-se, afastando Adriana delicadamente, e revelou o rosto de Estela por baixo do lençol.Ela tinha apenas oito anos, mas era tão magra e frágil que suas costelas estavam visivelmente marcadas, criando uma depressão sob elas.Ao ver essa imagem, as lágrimas de Adriana voltaram a fluir.Ela havia falhado. Não havia protegido sua Estela!Um funcionário, em voz baixa, tentou consolar: "Meus pêsames, senhora. Pelo menos, o rim de sua filha salvou a vida de outra criança, que viverá feliz por ela."Um brilho frio passou pelos olhos de Adriana, que soltou uma risada sarcástica."Ah, claro. Esse menino é o filho bastardo do meu marido. Agora, eles estão comemorando o aniversário dele com pompa e festa, sabia? Hoje também é o aniversário da minha filha."O funcionário ficou sem palavras, sem saber como consolar aquela mulher desesperada.Adriana olhou para Estela mais uma vez, forçando um sorriso trêmulo: "Queime... não prolongue isso. Espero que minha filha encontre uma família melhor na próxima vida."O funcionário suspirou em silêncio, balançando a cabeça enquanto levava o pequeno corpo para o forno crematório.Talvez por empatia, ele tenha escondido parte do processo.Mas a Adriana não estava com medo, porque sabia que a Estela estaria livre.Livre do desprezo diário de seu pai."Mamãe, por que papai não gosta de mim?""Mamãe, por que papai gosta tanto do filho da tia Eunice?""Mamãe, é por minha causa que papai não gosta de você? Me perdoe, mamãe."Sua filha tão boa!Tinha sido morta por Jaques Torres!Ele havia prometido levar Estela ao maior parque de diversões na véspera de seu aniversário, realizando seu maior desejo: passar um tempo a sós com o pai.Porém, mudou os planos e a levou para a sala de cirurgia, onde ela doaria um rim ao irmão. No fim, Estela foi abandonada à própria sorte, morrendo sozinha, vítima de uma infecção, na cama do hospital.E Adriana, a mãe, foi a última a saber!Ela jamais esqueceria o momento em que entrou no quarto do hospital e encontrou o corpo frio e rígido de sua filha.Ao lado, um pequeno relógio infantil, manchado de sangue, que parecia tão fora de lugar... um objeto frágil tentando, inutilmente, alcançar o pai.Depois de atender, apenas uma frase foi ouvida:"Não seja tão louca quanto sua mãe."Tu-tu-tu...Ouvindo o tom de ocupado, Adriana engoliu as lágrimas e abraçou a filha, temendo que seu desespero a assustasse.Desde que Eunice Amaral retornara ao país acusando Adriana de persegui-la, bem como a seu filho, Jaques a rotulou como uma lunática diante de todos.Particularmente, após ouvir o relato de Eunice sobre ter dado à luz, no exterior, a um bebê prematuro com problemas renais, o olhar de Jaques - aquele homem tão nobre e elegante, ao encarar mãe e filha revelava uma frieza implacável.Sem considerar suas explicações, ele amaldiçoou: "Adriana, você prejudicou a Eunice e meu filho. Eu farei você pagar o dobro."Jaques cumpriu sua promessa. E tudo parecia ter chegado ao fim.Quando Adriana voltou à realidade, segurava uma urna rosa nas mãos.Estela gostava de rosa.Ela abraçou a urna: "Estela, vamos para casa."O vento soprou, levantando a barra do vestido preto da mulher, mas, sob a luz do sol, sua figura parecia ainda mais solitária e melancólica....De volta ao apartamento que dividia com Jaques, Adriana começou a arrumar as coisas de Estela. Depois, sentou-se no sofá com a urna nos braços, ficando ali até o crepúsculo.O som de um carro chegou do lado de fora.Logo depois, uma figura masculina, firme e imponente, cruzou a porta.Era Jaques.Oito anos haviam se passado, mas ele ainda exalava a mesma aura perigosa e sofisticada do dia em que se conheceram.Jaques entrou sem notar Adriana, passou direto por ela e subiu as escadas.Poucos minutos depois, ao descer, já havia trocado de roupa. Vestia um terno antigo que ele guardava como se fosse um tesouro.Era o terno que Eunice havia desenhado especialmente para ele quando ficaram noivos.Mesmo assim, Jaques ignorava Adriana.Durante oito anos, ele manteve essa frieza.Na tentativa de torturá-la, a forçava contra a cama, desabafava sua raiva e, sem nunca olhar para trás, ia embora.Quanto à criança...Ele sequer permitia que Estela o chamasse de pai.Talvez porque Adriana estivesse incrivelmente silenciosa naquele dia, Jaques parou antes de sair. Contudo, não se virou para olhá-la."Hoje à noite, não voltarei para casa. Diga a Estela para não me ligar por motivos inúteis.""Ok."Adriana acariciava a urna funerária em seus braços. Ela ainda parecia reter o calor de Estela.Se ao menos ele a olhasse por um segundo, talvez notasse a urna.Jaques ajustava os punhos de sua camisa, indiferente: "Pense no que deseja no divórcio. Vamos resolver isso nos próximos dias. Quanto à criança, não quero me envolver.""Ok."Adriana continuava calma.Ao menos, agora Estela seria só sua.Jaques hesitou, mas ainda assim não voltou o olhar para ela."Pelo fato de Estela ter salvado Leonardo, assumirei todas as despesas médicas e de nutrição dela. Porém, não quero mais vê-las. Considere isso sua última chance de redenção.""Ok."Adriana pensou que, em breve, eles realmente não se veriam mais.Jaques sentiu um incômodo inexplicável. Quando estava prestes a virar-se, o telefone tocou. Era Eunice.Do outro lado da linha, a voz alegre de uma criança encheu o ambiente silencioso:"Papai! Venha logo! Mamãe e eu estamos esperando por você.""Estou a caminho."A voz de Jaques se elevou, e ele acelerou o passo, sem notar que, atrás dele, a mulher segurava algo firmemente nos braços, enquanto seu corpo ficava cada vez mais tenso.A lua cedia espaço para a escuridão.Adriana retirou da geladeira um bolo, o mesmo que havia encomendado para Estela.Acendeu as velas de aniversário."Parabéns para você... Parabéns para você..."Cantando, ela derramou gasolina ao redor, do andar de cima ao de baixo, sem poupar um canto sequer.Não tinha a intenção de poupar a si mesma.Se, desde o início, tivesse tido coragem de recusar o casamento com Jaques...Nada disso teria acontecido.Com tudo preparado, ela voltou à mesa de jantar, abraçando a urna funerária."Estela, feliz aniversário. Espere por mim."Adriana jogou a vela acesa nas cortinas......Na festa.Jaques apareceu ostensivamente com Eunice e o filho.Entre brindes e cumprimentos, os convidados comentavam sobre como eles formavam uma família perfeita. Alguns até faziam pouco caso de Adriana.Somente um médico amigo de Jaques parecia desconfortável. Ele se aproximou rapidamente."Sr. Jaques, meus pêsames.""Do que está falando?""Sua filha... faleceu devido a uma infecção pós-operatória. Hoje, a Sra. Torres a levou para o funeral.""Quanto Adriana pagou a você?" - Jaques perguntou sem expressão, enquanto tomava um gole de bebida."Eu não te enviei a certidão de óbito? Você disse que recebeu."Eunice ficou tensa, apertando a mão do filho nervosamente.Então, o telefone de Jaques tocou."Sr. Jaques, sua mansão está pegando fogo."A taça de Jaques caiu e ele saiu correndo.Não sabia como, mas dirigiu como um louco até a mansão. Quando chegou, viu as chamas consumindo a casa, como se cada labareda perfurasse seu peito.As cortinas caíram, revelando Adriana sentada diante do bolo de aniversário, segurando a urna nos braços e sorrindo para ela como se estivesse reencontrando alguém pela primeira vez."Adeus... eu te odeio. Se tudo pudesse começar de novo..."Antes que completasse, a estrutura desabou.Talvez fosse a ilusão da morte, mas Adriana teve a impressão de vê-lo ajoelhar-se.Deixa para lá.Estela veio buscá-la."Mamãe, mamãe."...À tarde, o sol queimava intensamente.O ambiente na Mansão Torres estava tão carregado quanto se estivesse envolto em chamas.O som de uma xícara se estilhaçando no chão e o ardor de um corte na pele trouxeram Adriana abruptamente de volta à realidade.Ela se viu ajoelhada no centro do salão, olhando confusa para as pessoas ao redor.Aquilo era...Ela havia retornado!Ela realmente havia retornado!Adriana, ignorando as expressões de surpresa ao seu redor, beliscou-se com força.A dor se espalhou por todo o seu corpo, e as lágrimas imediatamente encheram seus olhos!"Por que está chorando? Se há alguém a quem a Família Torres deve desculpas, essa pessoa é você!"Uma voz autoritária ecoou da cabeceira da mesa.Adriana recobrou-se e levantou os olhos, encontrando o olhar descontente de Cesário Torres.Imediatamente, abaixou a cabeça, assumindo a postura humilde de sempre. Mas, por dentro, seu corpo tremia por uma excitação que mal conseguia conter.Risos abafados e cochichos começaram a se espalharam ao redor."Essa garota... Em vez de aprender algo útil, teve a ousadia de drogar o Jaques para se deitar com ele, causando um escândalo na cidade. Queria forçá-lo a assumir responsabilidade. Agora não tem coragem nem de admitir. É difícil acreditar em como foi criada.""Definitivamente, ela não faz parte da nossa família. A Família Torres jamais educaria alguém tão sem vergonha. Até o diário dela, onde confessava ser apaixonada pelo Jaques, foi exposto na internet. Detalhes que fariam qualquer pessoa corar! A Família Torres gastou dinheiro para mandá-la para a universidade, e o que ela aprendeu foi a ser dissimulada.""Sempre disse: não se deve trazer qualquer pessoa para dentro de casa. Isso é claramente trazer o lobo para o galinheiro. Agora, ela se agarrou ao Jaques. Quem sabe se isso foi aprendido ou... herdado."Dizendo isso, alguns lançaram olhares de desprezo para Adriana e sua mãe ao fundo da sala.Victoria Lopes.Victoria estava pálida. Lançou um olhar rápido para Adriana, mas logo abaixou a cabeça, mordendo o interior da bochecha, incapaz de responder.Tudo porque a situação de Adriana era muito especial.Ela e a mãe haviam se mudado para a Mansão Torres após Victoria casar-se com o segundo irmão de Jaques.Portanto, por parentesco, ela deveria chamar Jaques de "tio".Mas ela nunca o fez.Porque ela não tinha esse direito.Na vida passada, sob as acusações dessas pessoas, Adriana pediu desculpas com medo e indiretamente admitiu ter drogado Jaques para se deitar com ele.Mais tarde, quando engravidou, forçou-o a casar-se. O resultado? Não apenas o desprezo de Jaques, mas de toda a cidadeEles a viam como uma mulher oportunista disposta a tudo para casar-se com um homem rico.Nesta vida, ela iria reescrever sua própria tragédia!Com os olhos percorrendo os rostos rígidos e condescendentes dos membros da Família Torres, ela sentiu menos medo do que em sua vida anterior.Estava prestes a falar...Quando passos firmes de um homem soaram atrás dela, fazendo com que todos, exceto o patriarca, se levantassem em respeito.Uma figura alta e imponente passou por Adriana sem hesitar.O mordomo se aproximou para receber o casaco, inclinando-se com deferência e disse: "Sr. Jaques.""Sim."Jaques respondeu secamente, acenando para o patriarca antes de sentar-se lentamente.Do início ao fim, ele sequer olhou para Adriana.Como se sua presença fosse insignificante para ele.Mas ela não desviou os olhos dele, encarando-o fixamente.Foi só quando ele percebeu seu olhar que baixou os olhos para encontrá-la.Naquele instante, Adriana sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Memórias de sua vida passada tomaram conta de sua mente. O medo instintivo surgiu, junto com um gosto metálico em sua boca. Suas mãos se fecharam involuntariamente, como se buscassem o calor das mãos de Estela.Ela nunca esqueceria aquele rosto.Os traços marcantes, os olhos sombrios e profundos, e o anel de rubi no polegar esquerdo. O brilho da pedra parecia tingido de sangue.Refletindo a personalidade fria e perigosamente sanguinária dele.Jaques, ao perceber o olhar insistente de Adriana, parou de girar o anel por um momento.Até que um par de mãos delicadas e pálidas repousou em seu ombro, fazendo-o voltar a ser indiferente.Era Eunice.Ela havia chorado. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, e o rosto delicado mostrava sinais de tristeza.Finalmente, todos estavam presentes!Capítulo 2De acordo com as normas do crematório, não é permitido que os familiares assistam à cremação.Adriana Guerreiro, no entanto, pagou um valor considerável e, segurando com força o gélido leito de ferro, adentrou a sala de incineração.O ar era pesado, carregado com o cheiro de queimado e cinzas que flutuavam suavemente sob a luz do sol.Talvez fossem cinzas humanas.Em breve, sua querida filha também se tornaria assim.Adriana, envolta em um vestido preto longo que mal escondia sua figura delicada, estava com os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar, mas, naquele instante, pareciam estranhamente calmos.Ela estendeu a mão, tocando os dedos pálidos e rígidos cobertos por um lençol branco. Com cuidado, começou a rezar olhando para o corpo inerte da filha."Estela, espere por mim."Havia chegado a hora.Um funcionário aproximou-se, afastando Adriana delicadamente, e revelou o rosto de Estela por baixo do lençol.Ela tinha apenas oito anos, mas era tão magra e frágil que suas costelas estavam visivelmente marcadas, criando uma depressão sob elas.Ao ver essa imagem, as lágrimas de Adriana voltaram a fluir.Ela havia falhado. Não havia protegido sua Estela!Um funcionário, em voz baixa, tentou consolar: "Meus pêsames, senhora. Pelo menos, o rim de sua filha salvou a vida de outra criança, que viverá feliz por ela."Um brilho frio passou pelos olhos de Adriana, que soltou uma risada sarcástica."Ah, claro. Esse menino é o filho bastardo do meu marido. Agora, eles estão comemorando o aniversário dele com pompa e festa, sabia? Hoje também é o aniversário da minha filha."O funcionário ficou sem palavras, sem saber como consolar aquela mulher desesperada.Adriana olhou para Estela mais uma vez, forçando um sorriso trêmulo: "Queime... não prolongue isso. Espero que minha filha encontre uma família melhor na próxima vida."O funcionário suspirou em silêncio, balançando a cabeça enquanto levava o pequeno corpo para o forno crematório.Talvez por empatia, ele tenha escondido parte do processo.Mas a Adriana não estava com medo, porque sabia que a Estela estaria livre.Livre do desprezo diário de seu pai."Mamãe, por que papai não gosta de mim?""Mamãe, por que papai gosta tanto do filho da tia Eunice?""Mamãe, é por minha causa que papai não gosta de você? Me perdoe, mamãe."Sua filha tão boa!Tinha sido morta por Jaques Torres!Ele havia prometido levar Estela ao maior parque de diversões na véspera de seu aniversário, realizando seu maior desejo: passar um tempo a sós com o pai.Porém, mudou os planos e a levou para a sala de cirurgia, onde ela doaria um rim ao irmão. No fim, Estela foi abandonada à própria sorte, morrendo sozinha, vítima de uma infecção, na cama do hospital.E Adriana, a mãe, foi a última a saber!Ela jamais esqueceria o momento em que entrou no quarto do hospital e encontrou o corpo frio e rígido de sua filha.Ao lado, um pequeno relógio infantil, manchado de sangue, que parecia tão fora de lugar... um objeto frágil tentando, inutilmente, alcançar o pai.Depois de atender, apenas uma frase foi ouvida:"Não seja tão louca quanto sua mãe."Tu-tu-tu...Ouvindo o tom de ocupado, Adriana engoliu as lágrimas e abraçou a filha, temendo que seu desespero a assustasse.Desde que Eunice Amaral retornara ao país acusando Adriana de persegui-la, bem como a seu filho, Jaques a rotulou como uma lunática diante de todos.Particularmente, após ouvir o relato de Eunice sobre ter dado à luz, no exterior, a um bebê prematuro com problemas renais, o olhar de Jaques - aquele homem tão nobre e elegante, ao encarar mãe e filha revelava uma frieza implacável.Sem considerar suas explicações, ele amaldiçoou: "Adriana, você prejudicou a Eunice e meu filho. Eu farei você pagar o dobro."Jaques cumpriu sua promessa. E tudo parecia ter chegado ao fim.Quando Adriana voltou à realidade, segurava uma urna rosa nas mãos.Estela gostava de rosa.Ela abraçou a urna: "Estela, vamos para casa."O vento soprou, levantando a barra do vestido preto da mulher, mas, sob a luz do sol, sua figura parecia ainda mais solitária e melancólica....De volta ao apartamento que dividia com Jaques, Adriana começou a arrumar as coisas de Estela. Depois, sentou-se no sofá com a urna nos braços, ficando ali até o crepúsculo.O som de um carro chegou do lado de fora.Logo depois, uma figura masculina, firme e imponente, cruzou a porta.Era Jaques.Oito anos haviam se passado, mas ele ainda exalava a mesma aura perigosa e sofisticada do dia em que se conheceram.Jaques entrou sem notar Adriana, passou direto por ela e subiu as escadas.Poucos minutos depois, ao descer, já havia trocado de roupa. Vestia um terno antigo que ele guardava como se fosse um tesouro.Era o terno que Eunice havia desenhado especialmente para ele quando ficaram noivos.Mesmo assim, Jaques ignorava Adriana.Durante oito anos, ele manteve essa frieza.Na tentativa de torturá-la, a forçava contra a cama, desabafava sua raiva e, sem nunca olhar para trás, ia embora.Quanto à criança...Ele sequer permitia que Estela o chamasse de pai.Talvez porque Adriana estivesse incrivelmente silenciosa naquele dia, Jaques parou antes de sair. Contudo, não se virou para olhá-la."Hoje à noite, não voltarei para casa. Diga a Estela para não me ligar por motivos inúteis.""Ok."Adriana acariciava a urna funerária em seus braços. Ela ainda parecia reter o calor de Estela.Se ao menos ele a olhasse por um segundo, talvez notasse a urna.Jaques ajustava os punhos de sua camisa, indiferente: "Pense no que deseja no divórcio. Vamos resolver isso nos próximos dias. Quanto à criança, não quero me envolver.""Ok."Adriana continuava calma.Ao menos, agora Estela seria só sua.Jaques hesitou, mas ainda assim não voltou o olhar para ela."Pelo fato de Estela ter salvado Leonardo, assumirei todas as despesas médicas e de nutrição dela. Porém, não quero mais vê-las. Considere isso sua última chance de redenção.""Ok."Adriana pensou que, em breve, eles realmente não se veriam mais.Jaques sentiu um incômodo inexplicável. Quando estava prestes a virar-se, o telefone tocou. Era Eunice.Do outro lado da linha, a voz alegre de uma criança encheu o ambiente silencioso:"Papai! Venha logo! Mamãe e eu estamos esperando por você.""Estou a caminho."A voz de Jaques se elevou, e ele acelerou o passo, sem notar que, atrás dele, a mulher segurava algo firmemente nos braços, enquanto seu corpo ficava cada vez mais tenso.A lua cedia espaço para a escuridão.Adriana retirou da geladeira um bolo, o mesmo que havia encomendado para Estela.Acendeu as velas de aniversário."Parabéns para você... Parabéns para você..."Cantando, ela derramou gasolina ao redor, do andar de cima ao de baixo, sem poupar um canto sequer.Não tinha a intenção de poupar a si mesma.Se, desde o início, tivesse tido coragem de recusar o casamento com Jaques...Nada disso teria acontecido.Com tudo preparado, ela voltou à mesa de jantar, abraçando a urna funerária."Estela, feliz aniversário. Espere por mim."Adriana jogou a vela acesa nas cortinas......Na festa.Jaques apareceu ostensivamente com Eunice e o filho.Entre brindes e cumprimentos, os convidados comentavam sobre como eles formavam uma família perfeita. Alguns até faziam pouco caso de Adriana.Somente um médico amigo de Jaques parecia desconfortável. Ele se aproximou rapidamente."Sr. Jaques, meus pêsames.""Do que está falando?""Sua filha... faleceu devido a uma infecção pós-operatória. Hoje, a Sra. Torres a levou para o funeral.""Quanto Adriana pagou a você?" - Jaques perguntou sem expressão, enquanto tomava um gole de bebida."Eu não te enviei a certidão de óbito? Você disse que recebeu."Eunice ficou tensa, apertando a mão do filho nervosamente.Então, o telefone de Jaques tocou."Sr. Jaques, sua mansão está pegando fogo."A taça de Jaques caiu e ele saiu correndo.Não sabia como, mas dirigiu como um louco até a mansão. Quando chegou, viu as chamas consumindo a casa, como se cada labareda perfurasse seu peito.As cortinas caíram, revelando Adriana sentada diante do bolo de aniversário, segurando a urna nos braços e sorrindo para ela como se estivesse reencontrando alguém pela primeira vez."Adeus... eu te odeio. Se tudo pudesse começar de novo..."Antes que completasse, a estrutura desabou.Talvez fosse a ilusão da morte, mas Adriana teve a impressão de vê-lo ajoelhar-se.Deixa para lá.Estela veio buscá-la."Mamãe, mamãe."...À tarde, o sol queimava intensamente.O ambiente na Mansão Torres estava tão carregado quanto se estivesse envolto em chamas.O som de uma xícara se estilhaçando no chão e o ardor de um corte na pele trouxeram Adriana abruptamente de volta à realidade.Ela se viu ajoelhada no centro do salão, olhando confusa para as pessoas ao redor.Aquilo era...Ela havia retornado!Ela realmente havia retornado!Adriana, ignorando as expressões de surpresa ao seu redor, beliscou-se com força.A dor se espalhou por todo o seu corpo, e as lágrimas imediatamente encheram seus olhos!"Por que está chorando? Se há alguém a quem a Família Torres deve desculpas, essa pessoa é você!"Uma voz autoritária ecoou da cabeceira da mesa.Adriana recobrou-se e levantou os olhos, encontrando o olhar descontente de Cesário Torres.Imediatamente, abaixou a cabeça, assumindo a postura humilde de sempre. Mas, por dentro, seu corpo tremia por uma excitação que mal conseguia conter.Risos abafados e cochichos começaram a se espalharam ao redor."Essa garota... Em vez de aprender algo útil, teve a ousadia de drogar o Jaques para se deitar com ele, causando um escândalo na cidade. Queria forçá-lo a assumir responsabilidade. Agora não tem coragem nem de admitir. É difícil acreditar em como foi criada.""Definitivamente, ela não faz parte da nossa família. A Família Torres jamais educaria alguém tão sem vergonha. Até o diário dela, onde confessava ser apaixonada pelo Jaques, foi exposto na internet. Detalhes que fariam qualquer pessoa corar! A Família Torres gastou dinheiro para mandá-la para a universidade, e o que ela aprendeu foi a ser dissimulada.""Sempre disse: não se deve trazer qualquer pessoa para dentro de casa. Isso é claramente trazer o lobo para o galinheiro. Agora, ela se agarrou ao Jaques. Quem sabe se isso foi aprendido ou... herdado."Dizendo isso, alguns lançaram olhares de desprezo para Adriana e sua mãe ao fundo da sala.Victoria Lopes.Victoria estava pálida. Lançou um olhar rápido para Adriana, mas logo abaixou a cabeça, mordendo o interior da bochecha, incapaz de responder.Tudo porque a situação de Adriana era muito especial.Ela e a mãe haviam se mudado para a Mansão Torres após Victoria casar-se com o segundo irmão de Jaques.Portanto, por parentesco, ela deveria chamar Jaques de "tio".Mas ela nunca o fez.Porque ela não tinha esse direito.Na vida passada, sob as acusações dessas pessoas, Adriana pediu desculpas com medo e indiretamente admitiu ter drogado Jaques para se deitar com ele.Mais tarde, quando engravidou, forçou-o a casar-se. O resultado? Não apenas o desprezo de Jaques, mas de toda a cidadeEles a viam como uma mulher oportunista disposta a tudo para casar-se com um homem rico.Nesta vida, ela iria reescrever sua própria tragédia!Com os olhos percorrendo os rostos rígidos e condescendentes dos membros da Família Torres, ela sentiu menos medo do que em sua vida anterior.Estava prestes a falar...Quando passos firmes de um homem soaram atrás dela, fazendo com que todos, exceto o patriarca, se levantassem em respeito.Uma figura alta e imponente passou por Adriana sem hesitar.O mordomo se aproximou para receber o casaco, inclinando-se com deferência e disse: "Sr. Jaques.""Sim."Jaques respondeu secamente, acenando para o patriarca antes de sentar-se lentamente.Do início ao fim, ele sequer olhou para Adriana.Como se sua presença fosse insignificante para ele.Mas ela não desviou os olhos dele, encarando-o fixamente.Foi só quando ele percebeu seu olhar que baixou os olhos para encontrá-la.Naquele instante, Adriana sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Memórias de sua vida passada tomaram conta de sua mente. O medo instintivo surgiu, junto com um gosto metálico em sua boca. Suas mãos se fecharam involuntariamente, como se buscassem o calor das mãos de Estela.Ela nunca esqueceria aquele rosto.Os traços marcantes, os olhos sombrios e profundos, e o anel de rubi no polegar esquerdo. O brilho da pedra parecia tingido de sangue.Refletindo a personalidade fria e perigosamente sanguinária dele.Jaques, ao perceber o olhar insistente de Adriana, parou de girar o anel por um momento.Até que um par de mãos delicadas e pálidas repousou em seu ombro, fazendo-o voltar a ser indiferente.Era Eunice.Ela havia chorado. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, e o rosto delicado mostrava sinais de tristeza.Finalmente, todos estavam presentes!Capítulo 3De acordo com as normas do crematório, não é permitido que os familiares assistam à cremação.Adriana Guerreiro, no entanto, pagou um valor considerável e, segurando com força o gélido leito de ferro, adentrou a sala de incineração.O ar era pesado, carregado com o cheiro de queimado e cinzas que flutuavam suavemente sob a luz do sol.Talvez fossem cinzas humanas.Em breve, sua querida filha também se tornaria assim.Adriana, envolta em um vestido preto longo que mal escondia sua figura delicada, estava com os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar, mas, naquele instante, pareciam estranhamente calmos.Ela estendeu a mão, tocando os dedos pálidos e rígidos cobertos por um lençol branco. Com cuidado, começou a rezar olhando para o corpo inerte da filha."Estela, espere por mim."Havia chegado a hora.Um funcionário aproximou-se, afastando Adriana delicadamente, e revelou o rosto de Estela por baixo do lençol.Ela tinha apenas oito anos, mas era tão magra e frágil que suas costelas estavam visivelmente marcadas, criando uma depressão sob elas.Ao ver essa imagem, as lágrimas de Adriana voltaram a fluir.Ela havia falhado. Não havia protegido sua Estela!Um funcionário, em voz baixa, tentou consolar: "Meus pêsames, senhora. Pelo menos, o rim de sua filha salvou a vida de outra criança, que viverá feliz por ela."Um brilho frio passou pelos olhos de Adriana, que soltou uma risada sarcástica."Ah, claro. Esse menino é o filho bastardo do meu marido. Agora, eles estão comemorando o aniversário dele com pompa e festa, sabia? Hoje também é o aniversário da minha filha."O funcionário ficou sem palavras, sem saber como consolar aquela mulher desesperada.Adriana olhou para Estela mais uma vez, forçando um sorriso trêmulo: "Queime... não prolongue isso. Espero que minha filha encontre uma família melhor na próxima vida."O funcionário suspirou em silêncio, balançando a cabeça enquanto levava o pequeno corpo para o forno crematório.Talvez por empatia, ele tenha escondido parte do processo.Mas a Adriana não estava com medo, porque sabia que a Estela estaria livre.Livre do desprezo diário de seu pai."Mamãe, por que papai não gosta de mim?""Mamãe, por que papai gosta tanto do filho da tia Eunice?""Mamãe, é por minha causa que papai não gosta de você? Me perdoe, mamãe."Sua filha tão boa!Tinha sido morta por Jaques Torres!Ele havia prometido levar Estela ao maior parque de diversões na véspera de seu aniversário, realizando seu maior desejo: passar um tempo a sós com o pai.Porém, mudou os planos e a levou para a sala de cirurgia, onde ela doaria um rim ao irmão. No fim, Estela foi abandonada à própria sorte, morrendo sozinha, vítima de uma infecção, na cama do hospital.E Adriana, a mãe, foi a última a saber!Ela jamais esqueceria o momento em que entrou no quarto do hospital e encontrou o corpo frio e rígido de sua filha.Ao lado, um pequeno relógio infantil, manchado de sangue, que parecia tão fora de lugar... um objeto frágil tentando, inutilmente, alcançar o pai.Depois de atender, apenas uma frase foi ouvida:"Não seja tão louca quanto sua mãe."Tu-tu-tu...Ouvindo o tom de ocupado, Adriana engoliu as lágrimas e abraçou a filha, temendo que seu desespero a assustasse.Desde que Eunice Amaral retornara ao país acusando Adriana de persegui-la, bem como a seu filho, Jaques a rotulou como uma lunática diante de todos.Particularmente, após ouvir o relato de Eunice sobre ter dado à luz, no exterior, a um bebê prematuro com problemas renais, o olhar de Jaques - aquele homem tão nobre e elegante, ao encarar mãe e filha revelava uma frieza implacável.Sem considerar suas explicações, ele amaldiçoou: "Adriana, você prejudicou a Eunice e meu filho. Eu farei você pagar o dobro."Jaques cumpriu sua promessa. E tudo parecia ter chegado ao fim.Quando Adriana voltou à realidade, segurava uma urna rosa nas mãos.Estela gostava de rosa.Ela abraçou a urna: "Estela, vamos para casa."O vento soprou, levantando a barra do vestido preto da mulher, mas, sob a luz do sol, sua figura parecia ainda mais solitária e melancólica....De volta ao apartamento que dividia com Jaques, Adriana começou a arrumar as coisas de Estela. Depois, sentou-se no sofá com a urna nos braços, ficando ali até o crepúsculo.O som de um carro chegou do lado de fora.Logo depois, uma figura masculina, firme e imponente, cruzou a porta.Era Jaques.Oito anos haviam se passado, mas ele ainda exalava a mesma aura perigosa e sofisticada do dia em que se conheceram.Jaques entrou sem notar Adriana, passou direto por ela e subiu as escadas.Poucos minutos depois, ao descer, já havia trocado de roupa. Vestia um terno antigo que ele guardava como se fosse um tesouro.Era o terno que Eunice havia desenhado especialmente para ele quando ficaram noivos.Mesmo assim, Jaques ignorava Adriana.Durante oito anos, ele manteve essa frieza.Na tentativa de torturá-la, a forçava contra a cama, desabafava sua raiva e, sem nunca olhar para trás, ia embora.Quanto à criança...Ele sequer permitia que Estela o chamasse de pai.Talvez porque Adriana estivesse incrivelmente silenciosa naquele dia, Jaques parou antes de sair. Contudo, não se virou para olhá-la."Hoje à noite, não voltarei para casa. Diga a Estela para não me ligar por motivos inúteis.""Ok."Adriana acariciava a urna funerária em seus braços. Ela ainda parecia reter o calor de Estela.Se ao menos ele a olhasse por um segundo, talvez notasse a urna.Jaques ajustava os punhos de sua camisa, indiferente: "Pense no que deseja no divórcio. Vamos resolver isso nos próximos dias. Quanto à criança, não quero me envolver.""Ok."Adriana continuava calma.Ao menos, agora Estela seria só sua.Jaques hesitou, mas ainda assim não voltou o olhar para ela."Pelo fato de Estela ter salvado Leonardo, assumirei todas as despesas médicas e de nutrição dela. Porém, não quero mais vê-las. Considere isso sua última chance de redenção.""Ok."Adriana pensou que, em breve, eles realmente não se veriam mais.Jaques sentiu um incômodo inexplicável. Quando estava prestes a virar-se, o telefone tocou. Era Eunice.Do outro lado da linha, a voz alegre de uma criança encheu o ambiente silencioso:"Papai! Venha logo! Mamãe e eu estamos esperando por você.""Estou a caminho."A voz de Jaques se elevou, e ele acelerou o passo, sem notar que, atrás dele, a mulher segurava algo firmemente nos braços, enquanto seu corpo ficava cada vez mais tenso.A lua cedia espaço para a escuridão.Adriana retirou da geladeira um bolo, o mesmo que havia encomendado para Estela.Acendeu as velas de aniversário."Parabéns para você... Parabéns para você..."Cantando, ela derramou gasolina ao redor, do andar de cima ao de baixo, sem poupar um canto sequer.Não tinha a intenção de poupar a si mesma.Se, desde o início, tivesse tido coragem de recusar o casamento com Jaques...Nada disso teria acontecido.Com tudo preparado, ela voltou à mesa de jantar, abraçando a urna funerária."Estela, feliz aniversário. Espere por mim."Adriana jogou a vela acesa nas cortinas......Na festa.Jaques apareceu ostensivamente com Eunice e o filho.Entre brindes e cumprimentos, os convidados comentavam sobre como eles formavam uma família perfeita. Alguns até faziam pouco caso de Adriana.Somente um médico amigo de Jaques parecia desconfortável. Ele se aproximou rapidamente."Sr. Jaques, meus pêsames.""Do que está falando?""Sua filha... faleceu devido a uma infecção pós-operatória. Hoje, a Sra. Torres a levou para o funeral.""Quanto Adriana pagou a você?" - Jaques perguntou sem expressão, enquanto tomava um gole de bebida."Eu não te enviei a certidão de óbito? Você disse que recebeu."Eunice ficou tensa, apertando a mão do filho nervosamente.Então, o telefone de Jaques tocou."Sr. Jaques, sua mansão está pegando fogo."A taça de Jaques caiu e ele saiu correndo.Não sabia como, mas dirigiu como um louco até a mansão. Quando chegou, viu as chamas consumindo a casa, como se cada labareda perfurasse seu peito.As cortinas caíram, revelando Adriana sentada diante do bolo de aniversário, segurando a urna nos braços e sorrindo para ela como se estivesse reencontrando alguém pela primeira vez."Adeus... eu te odeio. Se tudo pudesse começar de novo..."Antes que completasse, a estrutura desabou.Talvez fosse a ilusão da morte, mas Adriana teve a impressão de vê-lo ajoelhar-se.Deixa para lá.Estela veio buscá-la."Mamãe, mamãe."...À tarde, o sol queimava intensamente.O ambiente na Mansão Torres estava tão carregado quanto se estivesse envolto em chamas.O som de uma xícara se estilhaçando no chão e o ardor de um corte na pele trouxeram Adriana abruptamente de volta à realidade.Ela se viu ajoelhada no centro do salão, olhando confusa para as pessoas ao redor.Aquilo era...Ela havia retornado!Ela realmente havia retornado!Adriana, ignorando as expressões de surpresa ao seu redor, beliscou-se com força.A dor se espalhou por todo o seu corpo, e as lágrimas imediatamente encheram seus olhos!"Por que está chorando? Se há alguém a quem a Família Torres deve desculpas, essa pessoa é você!"Uma voz autoritária ecoou da cabeceira da mesa.Adriana recobrou-se e levantou os olhos, encontrando o olhar descontente de Cesário Torres.Imediatamente, abaixou a cabeça, assumindo a postura humilde de sempre. Mas, por dentro, seu corpo tremia por uma excitação que mal conseguia conter.Risos abafados e cochichos começaram a se espalharam ao redor."Essa garota... Em vez de aprender algo útil, teve a ousadia de drogar o Jaques para se deitar com ele, causando um escândalo na cidade. Queria forçá-lo a assumir responsabilidade. Agora não tem coragem nem de admitir. É difícil acreditar em como foi criada.""Definitivamente, ela não faz parte da nossa família. A Família Torres jamais educaria alguém tão sem vergonha. Até o diário dela, onde confessava ser apaixonada pelo Jaques, foi exposto na internet. Detalhes que fariam qualquer pessoa corar! A Família Torres gastou dinheiro para mandá-la para a universidade, e o que ela aprendeu foi a ser dissimulada.""Sempre disse: não se deve trazer qualquer pessoa para dentro de casa. Isso é claramente trazer o lobo para o galinheiro. Agora, ela se agarrou ao Jaques. Quem sabe se isso foi aprendido ou... herdado."Dizendo isso, alguns lançaram olhares de desprezo para Adriana e sua mãe ao fundo da sala.Victoria Lopes.Victoria estava pálida. Lançou um olhar rápido para Adriana, mas logo abaixou a cabeça, mordendo o interior da bochecha, incapaz de responder.Tudo porque a situação de Adriana era muito especial.Ela e a mãe haviam se mudado para a Mansão Torres após Victoria casar-se com o segundo irmão de Jaques.Portanto, por parentesco, ela deveria chamar Jaques de "tio".Mas ela nunca o fez.Porque ela não tinha esse direito.Na vida passada, sob as acusações dessas pessoas, Adriana pediu desculpas com medo e indiretamente admitiu ter drogado Jaques para se deitar com ele.Mais tarde, quando engravidou, forçou-o a casar-se. O resultado? Não apenas o desprezo de Jaques, mas de toda a cidadeEles a viam como uma mulher oportunista disposta a tudo para casar-se com um homem rico.Nesta vida, ela iria reescrever sua própria tragédia!Com os olhos percorrendo os rostos rígidos e condescendentes dos membros da Família Torres, ela sentiu menos medo do que em sua vida anterior.Estava prestes a falar...Quando passos firmes de um homem soaram atrás dela, fazendo com que todos, exceto o patriarca, se levantassem em respeito.Uma figura alta e imponente passou por Adriana sem hesitar.O mordomo se aproximou para receber o casaco, inclinando-se com deferência e disse: "Sr. Jaques.""Sim."Jaques respondeu secamente, acenando para o patriarca antes de sentar-se lentamente.Do início ao fim, ele sequer olhou para Adriana.Como se sua presença fosse insignificante para ele.Mas ela não desviou os olhos dele, encarando-o fixamente.Foi só quando ele percebeu seu olhar que baixou os olhos para encontrá-la.Naquele instante, Adriana sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Memórias de sua vida passada tomaram conta de sua mente. O medo instintivo surgiu, junto com um gosto metálico em sua boca. Suas mãos se fecharam involuntariamente, como se buscassem o calor das mãos de Estela.Ela nunca esqueceria aquele rosto.Os traços marcantes, os olhos sombrios e profundos, e o anel de rubi no polegar esquerdo. O brilho da pedra parecia tingido de sangue.Refletindo a personalidade fria e perigosamente sanguinária dele.Jaques, ao perceber o olhar insistente de Adriana, parou de girar o anel por um momento.Até que um par de mãos delicadas e pálidas repousou em seu ombro, fazendo-o voltar a ser indiferente.Era Eunice.Ela havia chorado. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, e o rosto delicado mostrava sinais de tristeza.Finalmente, todos estavam presentes!