Capítulo 1"Desculpe, Sra. Celeste, a senhora perdeu o melhor momento para a cirurgia..."Celeste Barreto ficou parada por muito tempo, segurando o laudo do diagnóstico de câncer de útero, antes de finalmente ligar para Leandro Pessoa, secretário de Amadeu Nascimento.O telefone tocou bastante até que alguém atendeu, com o mesmo tom despreocupado de sempre: "Senhora, precisa de alguma coisa?"Celeste apertou os dedos rígidos. "O Amadeu está? Preciso falar com ele."Leandro respondeu: "O Diretor Nascimento não pode atender agora.""Será que pode pedir para ele pegar o telefone..."Leandro nem teve tempo de responder, e Celeste ouviu uma voz suave ao fundo: "Amadeu, afinal, que surpresa é essa? Por que tanto mistério?""Olha pra cima."Celeste reconheceu aquela voz grave e familiar até os ossos — uma ternura que nunca era para ela.No instante seguinte, Leandro desligou a ligação sem hesitar.Ao mesmo tempo.Pum—O som de uma explosão ecoou do outro lado do porto. Ela levantou o rosto pálido.Do outro lado, fogos de artifício espetaculares subiam ao céu, cores vivas se entrelaçando no azul-escuro da noite, tão lindos quanto nos contos.Na entrada do hospital, a multidão estava agitada."Vocês ouviram? Dizem que foi o Diretor Nascimento da Vencedor que organizou esse show de fogos pra comemorar o aniversário da namorada! Dizem que gastou mais de vinte milhões só hoje!""Ela é a Vitória Sampaio! Doutora pelo Caltech, disputada pelas maiores empresas do país, linda, competente, família poderosa — e ainda por cima o namorado é bonito e mandão!""Não é à toa que o Diretor Nascimento ama tanto ela. Ter uma namorada assim é outro nível!"Celeste ficou olhando para aqueles fogos lindos e chamativos por um bom tempo. A mão que segurava o laudo foi relaxando até a folha fina cair no chão.Ela se virou e foi embora.De madrugada.Amadeu chegou em casa e encontrou Celeste sentada na sala de estar, sem nenhuma luz acesa.O homem acendeu a luz com um movimento e franziu a testa. "Por que ainda não foi dormir?"Celeste ergueu os olhos para ele. O casaco pendurado no braço, o olhar escuro e profundo pousado nela, frio como sempre.Ela já imaginara que ele era naturalmente distante, mas só hoje percebeu: aquele gelo ao lado dela era o fogo que aquecia o coração de outra."Não consegui dormir," disse ela em voz baixa. "Hoje fui ao hospital."Amadeu jogou o casaco no sofá, parecendo não se importar: "O que o médico disse?"Fazia semanas que Celeste reclamava de um incômodo no abdômen. Ele prometera acompanhá-la ao hospital, mas sempre adiava.Ou era um contrato milionário da empresa, ou algum projeto complicado demais.Ontem mesmo ele prometeu a Celeste que iria com ela ao hospital, mas como Vitória tinha escondido o aniversário dele?Saiu às pressas da empresa, só conseguiu chegar a tempo de soltar os fogos.Para Celeste, não sobrou atenção."Não foi nada, só preciso esperar mais um pouco," Celeste baixou os olhos. "Por que você voltou pra casa hoje?"Amadeu hesitou por alguns segundos, depois se aproximou.Ele puxou Celeste para seus braços, a respiração quente sobre o pescoço dela, em ondas, a voz rouca."Esses dias são seu período fértil.""Pra dar um herdeiro pra Família Nascimento, você mesma marcou comigo, todo mês, nesses dias, lembra?"O cheiro de perfume feminino nele era forte demais, como uma bala atravessando o pouco orgulho que restava a Celeste.Amadeu estava certo. Três anos de casamento, ele sempre fora frio. Só se aproximava dela, meio a contragosto, quando a matriarca insistia no "precisamos garantir o futuro da Família Nascimento".Ela se sentiu confusa. Ter um filho? Agora parecia impossível.Celeste era mansa, acostumada a obedecer. Mas hoje, de repente, não quis mais aguentar."Amadeu, deitar comigo não te dá medo de a sua namorada ficar com ciúmes?"Seus olhos brilhavam no escuro, como uma pequena fera mostrando os dentes pela primeira vez.Amadeu a encarou, percebendo que ela estava séria, o olhar ficando cada vez mais frio.Depois de um tempo, ele sorriu, mas o sorriso não alcançou os olhos."Medo de quê? Nosso casamento é escondido, você é quem vive na sombra.""Se aceitou ser coadjuvante, não pode exigir demais, não acha?"O coração de Celeste foi apertado de repente, e seu rosto ficou ainda mais pálido.Apesar do ar-condicionado central manter a temperatura sempre constante, naquele momento ela sentiu como se estivesse em um freezer.Vendo que ela não dizia nada, Amadeu demorou alguns segundos antes de desviar o olhar de seu rosto. "A saúde da mãe da Vitória está cada vez pior, o único desejo dela é ver a filha amparada, ela precisa de companhia. Não arrume confusão, continue sendo a Sra. Nascimento, eu não vou te incomodar."Ele falava sobre a traição com uma retidão irretocável.Não ia incomodá-la?Celeste ficou atônita por um instante, depois sorriu, forçando-se a ignorar a dor aguda no peito ao responder:"Se ela precisa de companhia, então não deveria vir até aqui. Isso realmente não faz sentido."Assim que terminou, virou-se e subiu as escadas, fechando a porta com firmeza, sem hesitar.Minutos depois, o som do motor de um carro veio do andar de baixo. O homem havia ido embora, e ela nem precisava pensar para saber que ele tinha ido para o lado da Vitória.Com o corpo cansado, ela foi até o banheiro e lavou o rosto. A água gelada batendo em suas bochechas a fez despertar um pouco mais.Celeste ligou o computador e contatou uma advogada que havia adicionado três anos antes, pedindo ajuda para redigir um acordo de divórcio.A advogada perguntou: "Sra. Barreto, possui algum pedido especial? Como casa, carro, divisão de bens?"Celeste pensou por um momento e respondeu com serenidade: "Não quero nada."Se nem Amadeu ela queria mais, quanto mais aquelas coisas?Além disso, tinha lido na internet que abrir mão de tudo aceleraria o processo, e ela não precisaria gastar o pouco de força que ainda lhe restava em negociações inúteis com ele.A advogada logo enviou o documento completo.Celeste imprimiu o acordo, e sua mão que segurava a caneta estava tão tensa que ficou esbranquiçada, mas não hesitou. Controlando o tremor, assinou seu nome com firmeza.Depois, com o corpo dolorido, arrumou suas roupas às pressas.Ao chegar à porta, olhou longamente para aquele lar que cuidara por três anos.Saiu sem olhar para trás.No dia seguinte, Celeste tirou uma licença e pediu um serviço de entrega expressa para levar o acordo de divórcio impresso até a recepção do prédio Vencedor.Para esse tipo de tarefa, Leandro sempre recebia as encomendas, nunca Amadeu em pessoa, então foi ele quem ela indicou como destinatário.Desde que se casara com Amadeu, Celeste havia entrado para o Grupo Nascimento.Amadeu nunca quis tornar público o casamento dos dois, nem permitia que ela se aproximasse dele na empresa, por isso a colocou no departamento de relações públicas, responsável pela imagem da companhia.Em poucos anos, graças à sua competência, ela se tornou gerente do setor de comunicação.Três anos sem nunca faltar ou se ausentar.Ela fazia tudo bem porque era de seu feitio buscar a perfeição em tudo que fazia, não porque gostasse—muito menos por amor à profissão.Já que decidira se divorciar, também não pretendia permanecer na Vencedor.Despediu-se da entrega expressa.Celeste olhou o relógio: quase dez horas.Apertou os dedos. Agora havia algo ainda mais importante para fazer...Cidade SerraPenitenciária Lemos.As mãos de Celeste suavam no volante. Três anos sem vê-lo, e ainda assim não conseguia conter o nervosismo.Fred Salazar sairia da prisão.Ela havia reservado uma sala privativa com um mês de antecedência para recebê-lo.Fred era o filho adotivo de seu pai, e ela crescera com ele. Na família Salazar, que era feroz como um bando de lobos, apenas Fred lhe fazia bem—passou mais de uma década protegendo-a com toda a força, nunca lhe dirigindo uma palavra dura. Ele já lhe dissera que todo mundo poderia decepcioná-la, menos ele, Fred.Diante do espelho, ela retocou o rosto, disfarçando o tom pálido e doente com uma camada extra de blush. Parecia normal, e para não preocupá-lo, tomou mais um analgésico, colocou óculos escuros e chapéu.O portão à frente se abriu lentamente.Ela saiu do carro automaticamente, como se seus membros não lhe pertencessem.Um homem alto, vestido de preto, caminhou em passos largos carregando uma mochila antiga, o cabelo curto e preto bem aparado. Ele lançou um olhar calmo e penetrante, que pareceu encontrá-la.O coração de Celeste quase parou com aquele olhar.A garganta seca, os olhos marejados, ela se aproximou sem perceber, chamando, "Irmão...""Fred!"A voz alegre da mulher despedaçou os pensamentos de Celeste. O corpo dela roçou por Celeste e foi direto se lançar nos braços largos de Fred. Fred, já acostumado, segurou a mulher, deixando que ela se jogasse sobre ele."Você sabe há quanto tempo estou te esperando! Se você não aparecesse logo, meu pai já ia me arrastar pra casar com outro!"Fred olhou fixamente para o rosto da mulher, retribuindo o beijo apaixonado dela. Ele sorriu de canto: "Tão apressada assim? Daqui a pouco, pede pro motorista da sua família descer do carro, que eu mando um presentão pro seu pai…"A mulher fez um biquinho manhoso, mas continuou grudada nele, sem vontade de sair: "Você é terrível! Meu pai quer que eu te leve lá em casa, disse que quer te conhecer e ainda prometeu fazer um jantar de boas-vindas pra você…"Celeste ficou parada, os pés cravados no lugar, olhando aquela cena sem entender.O constrangimento e a impotência vieram atrasados, tomando conta dela.Aquele Fred, carinhoso e atencioso, que sempre colocava ela em primeiro lugar… parecia ter sido só um sonho de mais de dez anos.Sua barriga começou a doer, um incômodo agudo e insistente.Era como se aquela faca atravessasse o tempo e voltasse a perfurá-la de novo."Celeste, eu não quero entrar na família Salazar, não quero mesmo ser seu irmão.""Quando você crescer, casa comigo, pode ser?"A voz suave ecoou em sua mente, deixando Celeste atordoada por um instante."Cuidado!"Um grito tenso. Celeste virou o rosto e viu uma motocicleta vindo em alta velocidade, direto em direção a ela, Fred e aquela mulher.Fred, sem hesitar, abraçou a mulher e recuou, protegendo-a completamente.Celeste só pôde se esquivar desajeitada, tapando o rosto com as mãos, quase torcendo o tornozelo na pressa."Você?" Fred olhou para ela, o olhar profundo, com uma mistura de análise e apreensão."Eu estou bem…"Celeste virou e saiu correndo antes que as lágrimas caíssem.A mulher perguntou curiosa: "Quem era?"Fred ficou paralisado por um momento, então segurou o queixo da mulher e a beijou: "Alguém que acho que conheço."Alguém que conheço…Alguém com quem conviveu tantos anos, alguém que ele pensou em se casar um dia?Celeste voltou para o carro, debruçada sobre o volante, tentando respirar apesar da dor que apertava seu abdômen. O suor frio cobria sua pele; ela já não sabia se era mais a dor do coração ou a dor do corpo que a castigava.O toque insistente do telefone interrompeu seus pensamentos.Ela olhou: era Leandro ligando…_Vencedor.Leandro franziu o cenho ao receber os documentos enviados por Celeste.Eles trabalhavam na mesma empresa, o que Celeste estava aprontando?Só porque não deixaram ela se aproximar do escritório do presidente, agora queria chamar atenção do Diretor Nascimento desse jeito?Que infantilidade.Irritado, Leandro foi direto ao departamento de comunicação.Mas foi informado que Celeste não tinha ido à empresa naquele dia.Com tantos assuntos para resolver, Leandro ficou ainda mais impaciente e ligou para Celeste."Diretora Barreto, não me interessa o que você está tentando fazer, volte para a empresa imediatamente."Celeste baixou os olhos. Será que tinha a ver com Amadeu? Será que ele já tinha visto o acordo de divórcio e queria falar disso?Era a única possibilidade que vinha à cabeça.Sem hesitar, ela virou o carro em direção à Vencedor.Quando Leandro viu Celeste chegando apressada, teve certeza: ela continuava igual, tentando chamar atenção do Diretor Nascimento. O sarcasmo quase transbordava em seu rosto."Onde ele está?" O rosto de Celeste estava pálido.Ela ainda precisava ir ao hospital buscar remédio, pensava se continuaria com o tratamento conservador; se começasse, não teria como esconder da avó e do tio."Aqui é a empresa, o Diretor Nascimento não precisa descer só para ver a Diretora Barreto, não é?" Leandro respondeu burocrático. "O Diretor Nascimento tem um assunto para você resolver.""É sobre o div…""Ontem, na festa de aniversário da Sra. Sampaio, surgiram comentários negativos, dizendo que ela teria tirado alguém do caminho para subir na vida. A Sra. Sampaio não é qualquer pessoa: vai ser o rosto do nosso principal projeto. Não podemos permitir polêmicas, nem manchar o nome dela!""O Diretor Nascimento fez questão de pedir para a Diretora Barreto resolver isso: limpar a imagem da Sra. Sampaio e acalmar a opinião pública!"Capítulo 2"Desculpe, Sra. Celeste, a senhora perdeu o melhor momento para a cirurgia..."Celeste Barreto ficou parada por muito tempo, segurando o laudo do diagnóstico de câncer de útero, antes de finalmente ligar para Leandro Pessoa, secretário de Amadeu Nascimento.O telefone tocou bastante até que alguém atendeu, com o mesmo tom despreocupado de sempre: "Senhora, precisa de alguma coisa?"Celeste apertou os dedos rígidos. "O Amadeu está? Preciso falar com ele."Leandro respondeu: "O Diretor Nascimento não pode atender agora.""Será que pode pedir para ele pegar o telefone..."Leandro nem teve tempo de responder, e Celeste ouviu uma voz suave ao fundo: "Amadeu, afinal, que surpresa é essa? Por que tanto mistério?""Olha pra cima."Celeste reconheceu aquela voz grave e familiar até os ossos — uma ternura que nunca era para ela.No instante seguinte, Leandro desligou a ligação sem hesitar.Ao mesmo tempo.Pum—O som de uma explosão ecoou do outro lado do porto. Ela levantou o rosto pálido.Do outro lado, fogos de artifício espetaculares subiam ao céu, cores vivas se entrelaçando no azul-escuro da noite, tão lindos quanto nos contos.Na entrada do hospital, a multidão estava agitada."Vocês ouviram? Dizem que foi o Diretor Nascimento da Vencedor que organizou esse show de fogos pra comemorar o aniversário da namorada! Dizem que gastou mais de vinte milhões só hoje!""Ela é a Vitória Sampaio! Doutora pelo Caltech, disputada pelas maiores empresas do país, linda, competente, família poderosa — e ainda por cima o namorado é bonito e mandão!""Não é à toa que o Diretor Nascimento ama tanto ela. Ter uma namorada assim é outro nível!"Celeste ficou olhando para aqueles fogos lindos e chamativos por um bom tempo. A mão que segurava o laudo foi relaxando até a folha fina cair no chão.Ela se virou e foi embora.De madrugada.Amadeu chegou em casa e encontrou Celeste sentada na sala de estar, sem nenhuma luz acesa.O homem acendeu a luz com um movimento e franziu a testa. "Por que ainda não foi dormir?"Celeste ergueu os olhos para ele. O casaco pendurado no braço, o olhar escuro e profundo pousado nela, frio como sempre.Ela já imaginara que ele era naturalmente distante, mas só hoje percebeu: aquele gelo ao lado dela era o fogo que aquecia o coração de outra."Não consegui dormir," disse ela em voz baixa. "Hoje fui ao hospital."Amadeu jogou o casaco no sofá, parecendo não se importar: "O que o médico disse?"Fazia semanas que Celeste reclamava de um incômodo no abdômen. Ele prometera acompanhá-la ao hospital, mas sempre adiava.Ou era um contrato milionário da empresa, ou algum projeto complicado demais.Ontem mesmo ele prometeu a Celeste que iria com ela ao hospital, mas como Vitória tinha escondido o aniversário dele?Saiu às pressas da empresa, só conseguiu chegar a tempo de soltar os fogos.Para Celeste, não sobrou atenção."Não foi nada, só preciso esperar mais um pouco," Celeste baixou os olhos. "Por que você voltou pra casa hoje?"Amadeu hesitou por alguns segundos, depois se aproximou.Ele puxou Celeste para seus braços, a respiração quente sobre o pescoço dela, em ondas, a voz rouca."Esses dias são seu período fértil.""Pra dar um herdeiro pra Família Nascimento, você mesma marcou comigo, todo mês, nesses dias, lembra?"O cheiro de perfume feminino nele era forte demais, como uma bala atravessando o pouco orgulho que restava a Celeste.Amadeu estava certo. Três anos de casamento, ele sempre fora frio. Só se aproximava dela, meio a contragosto, quando a matriarca insistia no "precisamos garantir o futuro da Família Nascimento".Ela se sentiu confusa. Ter um filho? Agora parecia impossível.Celeste era mansa, acostumada a obedecer. Mas hoje, de repente, não quis mais aguentar."Amadeu, deitar comigo não te dá medo de a sua namorada ficar com ciúmes?"Seus olhos brilhavam no escuro, como uma pequena fera mostrando os dentes pela primeira vez.Amadeu a encarou, percebendo que ela estava séria, o olhar ficando cada vez mais frio.Depois de um tempo, ele sorriu, mas o sorriso não alcançou os olhos."Medo de quê? Nosso casamento é escondido, você é quem vive na sombra.""Se aceitou ser coadjuvante, não pode exigir demais, não acha?"O coração de Celeste foi apertado de repente, e seu rosto ficou ainda mais pálido.Apesar do ar-condicionado central manter a temperatura sempre constante, naquele momento ela sentiu como se estivesse em um freezer.Vendo que ela não dizia nada, Amadeu demorou alguns segundos antes de desviar o olhar de seu rosto. "A saúde da mãe da Vitória está cada vez pior, o único desejo dela é ver a filha amparada, ela precisa de companhia. Não arrume confusão, continue sendo a Sra. Nascimento, eu não vou te incomodar."Ele falava sobre a traição com uma retidão irretocável.Não ia incomodá-la?Celeste ficou atônita por um instante, depois sorriu, forçando-se a ignorar a dor aguda no peito ao responder:"Se ela precisa de companhia, então não deveria vir até aqui. Isso realmente não faz sentido."Assim que terminou, virou-se e subiu as escadas, fechando a porta com firmeza, sem hesitar.Minutos depois, o som do motor de um carro veio do andar de baixo. O homem havia ido embora, e ela nem precisava pensar para saber que ele tinha ido para o lado da Vitória.Com o corpo cansado, ela foi até o banheiro e lavou o rosto. A água gelada batendo em suas bochechas a fez despertar um pouco mais.Celeste ligou o computador e contatou uma advogada que havia adicionado três anos antes, pedindo ajuda para redigir um acordo de divórcio.A advogada perguntou: "Sra. Barreto, possui algum pedido especial? Como casa, carro, divisão de bens?"Celeste pensou por um momento e respondeu com serenidade: "Não quero nada."Se nem Amadeu ela queria mais, quanto mais aquelas coisas?Além disso, tinha lido na internet que abrir mão de tudo aceleraria o processo, e ela não precisaria gastar o pouco de força que ainda lhe restava em negociações inúteis com ele.A advogada logo enviou o documento completo.Celeste imprimiu o acordo, e sua mão que segurava a caneta estava tão tensa que ficou esbranquiçada, mas não hesitou. Controlando o tremor, assinou seu nome com firmeza.Depois, com o corpo dolorido, arrumou suas roupas às pressas.Ao chegar à porta, olhou longamente para aquele lar que cuidara por três anos.Saiu sem olhar para trás.No dia seguinte, Celeste tirou uma licença e pediu um serviço de entrega expressa para levar o acordo de divórcio impresso até a recepção do prédio Vencedor.Para esse tipo de tarefa, Leandro sempre recebia as encomendas, nunca Amadeu em pessoa, então foi ele quem ela indicou como destinatário.Desde que se casara com Amadeu, Celeste havia entrado para o Grupo Nascimento.Amadeu nunca quis tornar público o casamento dos dois, nem permitia que ela se aproximasse dele na empresa, por isso a colocou no departamento de relações públicas, responsável pela imagem da companhia.Em poucos anos, graças à sua competência, ela se tornou gerente do setor de comunicação.Três anos sem nunca faltar ou se ausentar.Ela fazia tudo bem porque era de seu feitio buscar a perfeição em tudo que fazia, não porque gostasse—muito menos por amor à profissão.Já que decidira se divorciar, também não pretendia permanecer na Vencedor.Despediu-se da entrega expressa.Celeste olhou o relógio: quase dez horas.Apertou os dedos. Agora havia algo ainda mais importante para fazer...Cidade SerraPenitenciária Lemos.As mãos de Celeste suavam no volante. Três anos sem vê-lo, e ainda assim não conseguia conter o nervosismo.Fred Salazar sairia da prisão.Ela havia reservado uma sala privativa com um mês de antecedência para recebê-lo.Fred era o filho adotivo de seu pai, e ela crescera com ele. Na família Salazar, que era feroz como um bando de lobos, apenas Fred lhe fazia bem—passou mais de uma década protegendo-a com toda a força, nunca lhe dirigindo uma palavra dura. Ele já lhe dissera que todo mundo poderia decepcioná-la, menos ele, Fred.Diante do espelho, ela retocou o rosto, disfarçando o tom pálido e doente com uma camada extra de blush. Parecia normal, e para não preocupá-lo, tomou mais um analgésico, colocou óculos escuros e chapéu.O portão à frente se abriu lentamente.Ela saiu do carro automaticamente, como se seus membros não lhe pertencessem.Um homem alto, vestido de preto, caminhou em passos largos carregando uma mochila antiga, o cabelo curto e preto bem aparado. Ele lançou um olhar calmo e penetrante, que pareceu encontrá-la.O coração de Celeste quase parou com aquele olhar.A garganta seca, os olhos marejados, ela se aproximou sem perceber, chamando, "Irmão...""Fred!"A voz alegre da mulher despedaçou os pensamentos de Celeste. O corpo dela roçou por Celeste e foi direto se lançar nos braços largos de Fred. Fred, já acostumado, segurou a mulher, deixando que ela se jogasse sobre ele."Você sabe há quanto tempo estou te esperando! Se você não aparecesse logo, meu pai já ia me arrastar pra casar com outro!"Fred olhou fixamente para o rosto da mulher, retribuindo o beijo apaixonado dela. Ele sorriu de canto: "Tão apressada assim? Daqui a pouco, pede pro motorista da sua família descer do carro, que eu mando um presentão pro seu pai…"A mulher fez um biquinho manhoso, mas continuou grudada nele, sem vontade de sair: "Você é terrível! Meu pai quer que eu te leve lá em casa, disse que quer te conhecer e ainda prometeu fazer um jantar de boas-vindas pra você…"Celeste ficou parada, os pés cravados no lugar, olhando aquela cena sem entender.O constrangimento e a impotência vieram atrasados, tomando conta dela.Aquele Fred, carinhoso e atencioso, que sempre colocava ela em primeiro lugar… parecia ter sido só um sonho de mais de dez anos.Sua barriga começou a doer, um incômodo agudo e insistente.Era como se aquela faca atravessasse o tempo e voltasse a perfurá-la de novo."Celeste, eu não quero entrar na família Salazar, não quero mesmo ser seu irmão.""Quando você crescer, casa comigo, pode ser?"A voz suave ecoou em sua mente, deixando Celeste atordoada por um instante."Cuidado!"Um grito tenso. Celeste virou o rosto e viu uma motocicleta vindo em alta velocidade, direto em direção a ela, Fred e aquela mulher.Fred, sem hesitar, abraçou a mulher e recuou, protegendo-a completamente.Celeste só pôde se esquivar desajeitada, tapando o rosto com as mãos, quase torcendo o tornozelo na pressa."Você?" Fred olhou para ela, o olhar profundo, com uma mistura de análise e apreensão."Eu estou bem…"Celeste virou e saiu correndo antes que as lágrimas caíssem.A mulher perguntou curiosa: "Quem era?"Fred ficou paralisado por um momento, então segurou o queixo da mulher e a beijou: "Alguém que acho que conheço."Alguém que conheço…Alguém com quem conviveu tantos anos, alguém que ele pensou em se casar um dia?Celeste voltou para o carro, debruçada sobre o volante, tentando respirar apesar da dor que apertava seu abdômen. O suor frio cobria sua pele; ela já não sabia se era mais a dor do coração ou a dor do corpo que a castigava.O toque insistente do telefone interrompeu seus pensamentos.Ela olhou: era Leandro ligando…_Vencedor.Leandro franziu o cenho ao receber os documentos enviados por Celeste.Eles trabalhavam na mesma empresa, o que Celeste estava aprontando?Só porque não deixaram ela se aproximar do escritório do presidente, agora queria chamar atenção do Diretor Nascimento desse jeito?Que infantilidade.Irritado, Leandro foi direto ao departamento de comunicação.Mas foi informado que Celeste não tinha ido à empresa naquele dia.Com tantos assuntos para resolver, Leandro ficou ainda mais impaciente e ligou para Celeste."Diretora Barreto, não me interessa o que você está tentando fazer, volte para a empresa imediatamente."Celeste baixou os olhos. Será que tinha a ver com Amadeu? Será que ele já tinha visto o acordo de divórcio e queria falar disso?Era a única possibilidade que vinha à cabeça.Sem hesitar, ela virou o carro em direção à Vencedor.Quando Leandro viu Celeste chegando apressada, teve certeza: ela continuava igual, tentando chamar atenção do Diretor Nascimento. O sarcasmo quase transbordava em seu rosto."Onde ele está?" O rosto de Celeste estava pálido.Ela ainda precisava ir ao hospital buscar remédio, pensava se continuaria com o tratamento conservador; se começasse, não teria como esconder da avó e do tio."Aqui é a empresa, o Diretor Nascimento não precisa descer só para ver a Diretora Barreto, não é?" Leandro respondeu burocrático. "O Diretor Nascimento tem um assunto para você resolver.""É sobre o div…""Ontem, na festa de aniversário da Sra. Sampaio, surgiram comentários negativos, dizendo que ela teria tirado alguém do caminho para subir na vida. A Sra. Sampaio não é qualquer pessoa: vai ser o rosto do nosso principal projeto. Não podemos permitir polêmicas, nem manchar o nome dela!""O Diretor Nascimento fez questão de pedir para a Diretora Barreto resolver isso: limpar a imagem da Sra. Sampaio e acalmar a opinião pública!"Capítulo 3"Desculpe, Sra. Celeste, a senhora perdeu o melhor momento para a cirurgia..."Celeste Barreto ficou parada por muito tempo, segurando o laudo do diagnóstico de câncer de útero, antes de finalmente ligar para Leandro Pessoa, secretário de Amadeu Nascimento.O telefone tocou bastante até que alguém atendeu, com o mesmo tom despreocupado de sempre: "Senhora, precisa de alguma coisa?"Celeste apertou os dedos rígidos. "O Amadeu está? Preciso falar com ele."Leandro respondeu: "O Diretor Nascimento não pode atender agora.""Será que pode pedir para ele pegar o telefone..."Leandro nem teve tempo de responder, e Celeste ouviu uma voz suave ao fundo: "Amadeu, afinal, que surpresa é essa? Por que tanto mistério?""Olha pra cima."Celeste reconheceu aquela voz grave e familiar até os ossos — uma ternura que nunca era para ela.No instante seguinte, Leandro desligou a ligação sem hesitar.Ao mesmo tempo.Pum—O som de uma explosão ecoou do outro lado do porto. Ela levantou o rosto pálido.Do outro lado, fogos de artifício espetaculares subiam ao céu, cores vivas se entrelaçando no azul-escuro da noite, tão lindos quanto nos contos.Na entrada do hospital, a multidão estava agitada."Vocês ouviram? Dizem que foi o Diretor Nascimento da Vencedor que organizou esse show de fogos pra comemorar o aniversário da namorada! Dizem que gastou mais de vinte milhões só hoje!""Ela é a Vitória Sampaio! Doutora pelo Caltech, disputada pelas maiores empresas do país, linda, competente, família poderosa — e ainda por cima o namorado é bonito e mandão!""Não é à toa que o Diretor Nascimento ama tanto ela. Ter uma namorada assim é outro nível!"Celeste ficou olhando para aqueles fogos lindos e chamativos por um bom tempo. A mão que segurava o laudo foi relaxando até a folha fina cair no chão.Ela se virou e foi embora.De madrugada.Amadeu chegou em casa e encontrou Celeste sentada na sala de estar, sem nenhuma luz acesa.O homem acendeu a luz com um movimento e franziu a testa. "Por que ainda não foi dormir?"Celeste ergueu os olhos para ele. O casaco pendurado no braço, o olhar escuro e profundo pousado nela, frio como sempre.Ela já imaginara que ele era naturalmente distante, mas só hoje percebeu: aquele gelo ao lado dela era o fogo que aquecia o coração de outra."Não consegui dormir," disse ela em voz baixa. "Hoje fui ao hospital."Amadeu jogou o casaco no sofá, parecendo não se importar: "O que o médico disse?"Fazia semanas que Celeste reclamava de um incômodo no abdômen. Ele prometera acompanhá-la ao hospital, mas sempre adiava.Ou era um contrato milionário da empresa, ou algum projeto complicado demais.Ontem mesmo ele prometeu a Celeste que iria com ela ao hospital, mas como Vitória tinha escondido o aniversário dele?Saiu às pressas da empresa, só conseguiu chegar a tempo de soltar os fogos.Para Celeste, não sobrou atenção."Não foi nada, só preciso esperar mais um pouco," Celeste baixou os olhos. "Por que você voltou pra casa hoje?"Amadeu hesitou por alguns segundos, depois se aproximou.Ele puxou Celeste para seus braços, a respiração quente sobre o pescoço dela, em ondas, a voz rouca."Esses dias são seu período fértil.""Pra dar um herdeiro pra Família Nascimento, você mesma marcou comigo, todo mês, nesses dias, lembra?"O cheiro de perfume feminino nele era forte demais, como uma bala atravessando o pouco orgulho que restava a Celeste.Amadeu estava certo. Três anos de casamento, ele sempre fora frio. Só se aproximava dela, meio a contragosto, quando a matriarca insistia no "precisamos garantir o futuro da Família Nascimento".Ela se sentiu confusa. Ter um filho? Agora parecia impossível.Celeste era mansa, acostumada a obedecer. Mas hoje, de repente, não quis mais aguentar."Amadeu, deitar comigo não te dá medo de a sua namorada ficar com ciúmes?"Seus olhos brilhavam no escuro, como uma pequena fera mostrando os dentes pela primeira vez.Amadeu a encarou, percebendo que ela estava séria, o olhar ficando cada vez mais frio.Depois de um tempo, ele sorriu, mas o sorriso não alcançou os olhos."Medo de quê? Nosso casamento é escondido, você é quem vive na sombra.""Se aceitou ser coadjuvante, não pode exigir demais, não acha?"O coração de Celeste foi apertado de repente, e seu rosto ficou ainda mais pálido.Apesar do ar-condicionado central manter a temperatura sempre constante, naquele momento ela sentiu como se estivesse em um freezer.Vendo que ela não dizia nada, Amadeu demorou alguns segundos antes de desviar o olhar de seu rosto. "A saúde da mãe da Vitória está cada vez pior, o único desejo dela é ver a filha amparada, ela precisa de companhia. Não arrume confusão, continue sendo a Sra. Nascimento, eu não vou te incomodar."Ele falava sobre a traição com uma retidão irretocável.Não ia incomodá-la?Celeste ficou atônita por um instante, depois sorriu, forçando-se a ignorar a dor aguda no peito ao responder:"Se ela precisa de companhia, então não deveria vir até aqui. Isso realmente não faz sentido."Assim que terminou, virou-se e subiu as escadas, fechando a porta com firmeza, sem hesitar.Minutos depois, o som do motor de um carro veio do andar de baixo. O homem havia ido embora, e ela nem precisava pensar para saber que ele tinha ido para o lado da Vitória.Com o corpo cansado, ela foi até o banheiro e lavou o rosto. A água gelada batendo em suas bochechas a fez despertar um pouco mais.Celeste ligou o computador e contatou uma advogada que havia adicionado três anos antes, pedindo ajuda para redigir um acordo de divórcio.A advogada perguntou: "Sra. Barreto, possui algum pedido especial? Como casa, carro, divisão de bens?"Celeste pensou por um momento e respondeu com serenidade: "Não quero nada."Se nem Amadeu ela queria mais, quanto mais aquelas coisas?Além disso, tinha lido na internet que abrir mão de tudo aceleraria o processo, e ela não precisaria gastar o pouco de força que ainda lhe restava em negociações inúteis com ele.A advogada logo enviou o documento completo.Celeste imprimiu o acordo, e sua mão que segurava a caneta estava tão tensa que ficou esbranquiçada, mas não hesitou. Controlando o tremor, assinou seu nome com firmeza.Depois, com o corpo dolorido, arrumou suas roupas às pressas.Ao chegar à porta, olhou longamente para aquele lar que cuidara por três anos.Saiu sem olhar para trás.No dia seguinte, Celeste tirou uma licença e pediu um serviço de entrega expressa para levar o acordo de divórcio impresso até a recepção do prédio Vencedor.Para esse tipo de tarefa, Leandro sempre recebia as encomendas, nunca Amadeu em pessoa, então foi ele quem ela indicou como destinatário.Desde que se casara com Amadeu, Celeste havia entrado para o Grupo Nascimento.Amadeu nunca quis tornar público o casamento dos dois, nem permitia que ela se aproximasse dele na empresa, por isso a colocou no departamento de relações públicas, responsável pela imagem da companhia.Em poucos anos, graças à sua competência, ela se tornou gerente do setor de comunicação.Três anos sem nunca faltar ou se ausentar.Ela fazia tudo bem porque era de seu feitio buscar a perfeição em tudo que fazia, não porque gostasse—muito menos por amor à profissão.Já que decidira se divorciar, também não pretendia permanecer na Vencedor.Despediu-se da entrega expressa.Celeste olhou o relógio: quase dez horas.Apertou os dedos. Agora havia algo ainda mais importante para fazer...Cidade SerraPenitenciária Lemos.As mãos de Celeste suavam no volante. Três anos sem vê-lo, e ainda assim não conseguia conter o nervosismo.Fred Salazar sairia da prisão.Ela havia reservado uma sala privativa com um mês de antecedência para recebê-lo.Fred era o filho adotivo de seu pai, e ela crescera com ele. Na família Salazar, que era feroz como um bando de lobos, apenas Fred lhe fazia bem—passou mais de uma década protegendo-a com toda a força, nunca lhe dirigindo uma palavra dura. Ele já lhe dissera que todo mundo poderia decepcioná-la, menos ele, Fred.Diante do espelho, ela retocou o rosto, disfarçando o tom pálido e doente com uma camada extra de blush. Parecia normal, e para não preocupá-lo, tomou mais um analgésico, colocou óculos escuros e chapéu.O portão à frente se abriu lentamente.Ela saiu do carro automaticamente, como se seus membros não lhe pertencessem.Um homem alto, vestido de preto, caminhou em passos largos carregando uma mochila antiga, o cabelo curto e preto bem aparado. Ele lançou um olhar calmo e penetrante, que pareceu encontrá-la.O coração de Celeste quase parou com aquele olhar.A garganta seca, os olhos marejados, ela se aproximou sem perceber, chamando, "Irmão...""Fred!"A voz alegre da mulher despedaçou os pensamentos de Celeste. O corpo dela roçou por Celeste e foi direto se lançar nos braços largos de Fred. Fred, já acostumado, segurou a mulher, deixando que ela se jogasse sobre ele."Você sabe há quanto tempo estou te esperando! Se você não aparecesse logo, meu pai já ia me arrastar pra casar com outro!"Fred olhou fixamente para o rosto da mulher, retribuindo o beijo apaixonado dela. Ele sorriu de canto: "Tão apressada assim? Daqui a pouco, pede pro motorista da sua família descer do carro, que eu mando um presentão pro seu pai…"A mulher fez um biquinho manhoso, mas continuou grudada nele, sem vontade de sair: "Você é terrível! Meu pai quer que eu te leve lá em casa, disse que quer te conhecer e ainda prometeu fazer um jantar de boas-vindas pra você…"Celeste ficou parada, os pés cravados no lugar, olhando aquela cena sem entender.O constrangimento e a impotência vieram atrasados, tomando conta dela.Aquele Fred, carinhoso e atencioso, que sempre colocava ela em primeiro lugar… parecia ter sido só um sonho de mais de dez anos.Sua barriga começou a doer, um incômodo agudo e insistente.Era como se aquela faca atravessasse o tempo e voltasse a perfurá-la de novo."Celeste, eu não quero entrar na família Salazar, não quero mesmo ser seu irmão.""Quando você crescer, casa comigo, pode ser?"A voz suave ecoou em sua mente, deixando Celeste atordoada por um instante."Cuidado!"Um grito tenso. Celeste virou o rosto e viu uma motocicleta vindo em alta velocidade, direto em direção a ela, Fred e aquela mulher.Fred, sem hesitar, abraçou a mulher e recuou, protegendo-a completamente.Celeste só pôde se esquivar desajeitada, tapando o rosto com as mãos, quase torcendo o tornozelo na pressa."Você?" Fred olhou para ela, o olhar profundo, com uma mistura de análise e apreensão."Eu estou bem…"Celeste virou e saiu correndo antes que as lágrimas caíssem.A mulher perguntou curiosa: "Quem era?"Fred ficou paralisado por um momento, então segurou o queixo da mulher e a beijou: "Alguém que acho que conheço."Alguém que conheço…Alguém com quem conviveu tantos anos, alguém que ele pensou em se casar um dia?Celeste voltou para o carro, debruçada sobre o volante, tentando respirar apesar da dor que apertava seu abdômen. O suor frio cobria sua pele; ela já não sabia se era mais a dor do coração ou a dor do corpo que a castigava.O toque insistente do telefone interrompeu seus pensamentos.Ela olhou: era Leandro ligando…_Vencedor.Leandro franziu o cenho ao receber os documentos enviados por Celeste.Eles trabalhavam na mesma empresa, o que Celeste estava aprontando?Só porque não deixaram ela se aproximar do escritório do presidente, agora queria chamar atenção do Diretor Nascimento desse jeito?Que infantilidade.Irritado, Leandro foi direto ao departamento de comunicação.Mas foi informado que Celeste não tinha ido à empresa naquele dia.Com tantos assuntos para resolver, Leandro ficou ainda mais impaciente e ligou para Celeste."Diretora Barreto, não me interessa o que você está tentando fazer, volte para a empresa imediatamente."Celeste baixou os olhos. Será que tinha a ver com Amadeu? Será que ele já tinha visto o acordo de divórcio e queria falar disso?Era a única possibilidade que vinha à cabeça.Sem hesitar, ela virou o carro em direção à Vencedor.Quando Leandro viu Celeste chegando apressada, teve certeza: ela continuava igual, tentando chamar atenção do Diretor Nascimento. O sarcasmo quase transbordava em seu rosto."Onde ele está?" O rosto de Celeste estava pálido.Ela ainda precisava ir ao hospital buscar remédio, pensava se continuaria com o tratamento conservador; se começasse, não teria como esconder da avó e do tio."Aqui é a empresa, o Diretor Nascimento não precisa descer só para ver a Diretora Barreto, não é?" Leandro respondeu burocrático. "O Diretor Nascimento tem um assunto para você resolver.""É sobre o div…""Ontem, na festa de aniversário da Sra. Sampaio, surgiram comentários negativos, dizendo que ela teria tirado alguém do caminho para subir na vida. A Sra. Sampaio não é qualquer pessoa: vai ser o rosto do nosso principal projeto. Não podemos permitir polêmicas, nem manchar o nome dela!""O Diretor Nascimento fez questão de pedir para a Diretora Barreto resolver isso: limpar a imagem da Sra. Sampaio e acalmar a opinião pública!"