Juliana Ramos era uma herdeira de uma família rica, mas foi rejeitada pelos próprios pais, que, em vez disso, trataram a filha adotiva Clarinda Ramos como sua verdadeira filha. Clarinda parecia gentil e bondosa, mas na verdade era manipuladora e cruel — um demônio por trás de uma máscara de anjo. Ela não só roubou a família e o noivo de Juliana, como também a armou para que fosse injustamente condenada e passasse treze anos na prisão. Após sua libertação, Juliana retornou cheia de cicatrizes, desejando recomeçar sua vida. No entanto, Clarinda a traiu mais uma vez, vendendo-a para o inferno do norte de Mianmar, onde foi submetida a experimentos em laboratórios de tráfico humano, injetada com drogas e usada como um recipiente vivo para o comércio de órgãos. Ao renascer das cinzas, Juliana finalmente entendeu que bondade não conquista sinceridade. Nesta vida, ela não mais almeja o amor da família — seu único objetivo é fazer com que todos que a feriram, especialmente a hipócrita Clarinda, paguem o preço mais doloroso. De filha rejeitada a rainha da vingança, ela destruirá todas as máscaras da falsidade e trará a verdade à luz.

Capítulo 1Primeiro de janeiro.Neve caía abundantemente.Fogos de artifício iluminavam o céu.– Juliana Ramos, você já pode sair da prisão.– Depois que sair, tente viver direito, recomece sua vida.Treze anos.Dos vinte e dois aos trinta e cinco anos, ela finalmente tirou aquele uniforme azul-escuro de presidiária.Com o som metálico de um trinco, o pesado portão de ferro foi aberto.A figura magra como um esqueleto saiu lentamente.Os cabelos secos e desalinhados lembravam capim seco no sertão, desgrenhados sobre a cabeça.Ao olhar ao redor, tudo era branco.A luz pálida refletia em seus olhos.Muito ofuscante.Ela ergueu a mão para se proteger da claridade intensa.Ainda assim, abriu discretamente os dedos, ávida por absorver aquele brilho que carregava o sabor da liberdade.Juliana esboçou um sorriso nos lábios rachados, um sorriso amargo e triste.Ha ha!Como ela poderia viver direito novamente?Antes de ser presa, ela era a Srta. Ramos, invejada por todos em Cidade do Mar, uma jovem obediente, educada e culta.Tinha uma irmã, Clarinda Ramos, confiante, otimista e de beleza estonteante.E um noivo com quem estava há quatro anos, Hélder Lemos.Aos dezoito, ele já era a figura mais brilhante de Cidade do Mar, com os negócios da Família Lemos espalhados por todo o Brasil; aos vinte, assumiu o comando da família, tornando-se o mais jovem líder do Grupo Estrela.Aos vinte e dois anos, no dia anterior ao casamento deles.O homem que mais amava, a irmã que mais amava, juntos a entregaram à prisão.– Clarinda, foi você quem viu Juliana cometer o assassinato?– Sim, apesar de ela ser minha irmã, eu não posso ignorar a lei...– Hélder, você tem certeza de que Juliana matou Quitéria Serrano?– Eu, Hélder, nunca sou parcial. Vi com meus próprios olhos, quem matou... foi Juliana.Tanto as provas quanto as testemunhas apontavam para Juliana....As vozes frias e implacáveis eram como pesadelos, ecoando em seus ouvidos, dia após dia.Juliana baixou os olhos e analisou suas roupas velhas e gastas.Um casaco de algodão rasgado, uma calça fina.Num pé, uma meia furada que deixava os dedos expostos; no outro, um sapato velho remendado.Nada daquilo era dela.No dia em que foi presa, estava de vestido de noiva.Com pena dela, as colegas de cela juntaram aquelas roupas para ela.Eram humildes, mas eram as mais quentes que Juliana usara em treze anos.Ouviu atrás de si o portão pesado ser fechado e trancado novamente.Juliana retirou do bolso do casaco um jornal antigo.Viu-se ali, treze anos atrás, de vestido de noiva e algemada, e as lágrimas fluíram sem controle.Gota a gota, caíram sobre o jornal amarelado."Filha da Família Ramos, Juliana, condenada por assassinar Quitéria. Pena de vinte anos."Na prisão, cheia de violência, ela recebeu um "tratamento especial": todos os dias era espancada.O único motivo que a manteve viva era o ódio.Na prisão, esforçou-se para se comportar, conseguindo, por fim, a redução da pena para treze anos.Treze anos!Juliana riu alto, o corpo tremendo, e enquanto ria, lágrimas geladas escorriam por seu rosto áspero.Ela ria de si mesma, de ser uma piada, uma tola aos olhos dos outros.No mesmo mês em que foi presa, o pai, João Ramos, publicou nos jornais que a expulsava da Família Ramos.Ela queria tanto perguntar aos pais por que eram tão parciais!Achou que, se se esforçasse ao máximo, receberia deles o mesmo sorriso carinhoso que davam a Clarinda, ou talvez um abraço afetuoso, um afago nos cabelos.Achou que, se tirasse notas máximas em todas as provas, os pais ficariam felizes e diriam, como faziam com Clarinda: – Minha filha é incrível, a melhor princesinha do mundo...Mas se enganou.Ela não podia ter notas melhores que as de Clarinda.Para agradar aos pais, fingiu ter notas ruins; assim, cada vez que Clarinda recebia incentivo e carinho, ela também sentia, ainda que indiretamente, o amor dos pais.Tudo o que Clarinda gostava, ela precisava entregar de mãos juntas, sem jamais pronunciar um "não".Em casa, tudo o que fazia não tinha valor comparado a uma única lágrima de Clarinda.Bastava Clarinda chorar, e toda a culpa recaía sobre ela.Quando Clarinda fazia manha, eles mimavam.Se Clarinda chorava, eles sentiam pena.Mas ela, por sua vez, precisava sempre medir cada gesto, não podia se aproximar deles, devia obedecer absolutamente.Vivia cada dia em constante temor, com medo de desagradar Clarinda e ser, novamente, alvo das repreensões da família.Se todos gostavam tanto de Clarinda, por que então fizeram tanto alarde ao buscá-la de volta?Ela pensava que, ao retornar para a Família Ramos, tendo pai e mãe, já não seria mais chamada de "filha de ninguém".Acreditava que seus pais ainda a amavam, que todos aqueles anos a haviam procurado incessantemente.Naquele tempo, sentiu-se a pessoa mais feliz do mundo, desejou contar ao mundo inteiro que seus pais a amavam profundamente.Veja só, trouxeram-na de volta à Família Ramos, organizaram até uma grande cerimônia de boas-vindas.Porém, estava enganada, e de maneira irremediável.Bastava uma palavra de Clarinda para que ela voltasse a ser aquela pessoa supérflua, descartável.Eles, como um trio, eram a verdadeira família; ela, por outro lado, era como um inseto saído do esgoto, cobiçando uma vida que jamais deveria ser sua.Ela só queria um pouco de amor, apenas um pouco.Mas Clarinda precisava tirar todo amor ao seu redor, fazendo com que aqueles que a amavam — e os que ela amava — passassem a vê-la como inimiga.Ela também era filha de sua mãe, por que, então, era tratada de modo tão diferente?O passado vinha à tona, cena após cena, como um filme que não parava de se repetir em sua mente.Aquele homem que prometera amá-la para sempre se uniu a Clarinda para entregá-la, com as próprias mãos, à prisão.Ela, Juliana!Ficou sem nada.Uma era presidente do Grupo Estrela em Cidade do Mar, poderosa como poucos; a outra, a joia da coroa do Grupo Ramos.Vingança!Ha!Treze anos de prisão transformaram-na de uma Senhorita que jamais tocara sequer em água fria em alguém desprezada e perseguida por todos.Tudo isso, graças a eles.Parada na encruzilhada, Juliana sentia-se perdida, sem saber para onde ir.Morria de fome.Sem um centavo no bolso.Depois de caminhar por mais de duas horas, viu uma multidão de pessoas, carros indo e vindo.Não sabia onde estava.Cidade do Mar mudara muito.Ela furtou um saco plástico preto que cobria uma lixeira.Seguiu caminhando, vasculhando cada lixeira ao longo do caminho.Guardou tudo o que podia servir no saco, e, de lá, tirou uma marmita de comida que alguém não havia terminado. Limpou a sujeira do recipiente, foi até um canto afastado, agachou-se, abriu a comida e começou a comer.Ignorou os olhares de desprezo e nojo ao seu redor, devorando a comida em poucos segundos, limpando o recipiente até não restar mais nada.— Nossa Clarinda é incrível, viu? Ontem assisti à live e chorei meia hora; finalmente ela ganhou o prêmio de melhor atriz.— Pois é, eu também! Quando ela chorou, também chorei. O Sr. Lemos deu a ela um anel de diamante de dez quilates na hora, nossa, que sonho.— A deusa é mesmo uma vencedora, tem uma carreira brilhante, um marido lindo e rico, e ouvi dizer que está esperando o segundo filho...Algumas jovens fãs, com olhares de admiração, encaravam a imagem da estrela no telão.A pessoa agachada no canto deixou um leve brilho passar pelo olhar vazio e sem vida; lentamente, ergueu a cabeça para o painel publicitário acima.Os olhos de âmbar reluziam de veneno, incandescentes de ódio.Apertou o punho, relaxou, apertou de novo, os dedos marcando a palma, sem sentir dor alguma.Treze anos, 4745 dias.Clarinda, fui eu quem pagou a pena por você.Vivi cada dia em sofrimento e angústia, como pode viver com tanta tranquilidade?Ela parecia ainda ser capaz de ouvir as vozes do passado vindas de fora.— Srta. Ramos, realmente não dava para imaginar. Matou a noiva do próprio irmão só porque tinha medo que, depois que Sávio Ramos ficasse com a Quitéria, ele não gostasse mais dela.— Que crueldade, queimou a Quitéria viva!— Ela nunca foi uma boa pessoa, tinha inveja porque a Clarinda era melhor em tudo. Na escola, sempre se juntava com outros para intimidar a Clarinda. Só não foi exposto porque ela era a filha que a Família Ramos demorou tanto para reencontrar.— Quitéria era futura cunhada dela, até ciúmes da própria cunhada teve, que falta de vergonha. Tinha mesmo era que ser condenada à morte.— Quem mata deve pagar com a vida, quem mata deve pagar com a vida...Todos no tribunal a acusavam e a insultavam severamente.Ela olhou para as pessoas presentes com um olhar vazio e desesperançado.Seu pai e sua mãe.Sua irmã.Seu noivo.Sua melhor amiga.A pessoa em quem mais confiava...Todos, do alto de sua moralidade, denunciavam seus crimes. Sua mãe chorava e pedia que ela morresse, apenas porque seus pecados afetavam o futuro da irmã.Ela tentou se defender incansavelmente, dizendo que Juliana não era assassina, que fora Clarinda quem cometera o crime, que Clarinda era a verdadeira culpada.Mas, diante de provas irrefutáveis, ninguém acreditou nela.Todos diziam que, mesmo diante das evidências, ela ainda tentava difamar a inocente irmã. A Família Ramos não teria uma filha tão maldosa.Os que a temiam, a acusavam.Os que a amavam, desejavam sua morte....Anoiteceu.Um Santana preto parou ao lado de uma lixeira; alguns homens fortes desceram do carro e, rapidamente, colocaram a mulher que dormia encolhida no chão em um saco, arrastando-a para dentro do veículo.Atordoada, ela ouviu uma voz familiar.— Querida irmã, não imaginei que sairia tão cedo, então vim especialmente te buscar. Vamos para casa, aproveitar a vida.— Ah, quase esqueci de te contar, todas as pessoas que você se importava já morreram, todas!— Hélder é meu marido, hum... esse seu rosto me irrita tanto, que vou te mandar para um lugar bem especial, para você aproveitar bastante... Hahaha...— Hum, parece que sua vida na prisão não foi tão ruim assim, conseguiu sair viva...Juliana tentou se debater para falar, mas percebeu que não conseguia emitir som algum.Ouvindo a risada sanguinária da mulher, ela queria avançar e matá-la, mordê-la até a morte!Porém, sua consciência foi se esvaindo pouco a pouco, as mãos caíram sem forças, até que desmaiou por completo.*Um ano e meio depois.Fronteira do norte da Ásia.No porão úmido e frio, Juliana permanecia sentada no chão, em estado de torpor.Moscas zumbiam ao seu redor sem cessar; anos sem banho faziam com que exalasse um cheiro horrível.Clarinda a vendera para o norte.Aquele lugar era um verdadeiro inferno na Terra. Ela presenciou pessoas vivas sendo esquartejadas no instante seguinte.Aquelas pessoas eram monstruosas, buscando órgãos nos membros amputados...Logo que chegou, ela e mais de dez mulheres foram trancadas nuas no mesmo cômodo.Ali, a primeira etapa era se tornar escrava dos homens.Juliana resistiu até o fim, tentando suicidar-se mordendo a língua.A língua partiu, mas ela não morreu!Arrastaram-na para um quarto escuro, onde sofreu espancamentos e torturas indescritíveis.Ela só queria morrer, mas eles não permitiam.Um dos chefes disse que alguém havia dado ordens para que ela sofresse ali todo tipo de abuso, com milhares de homens, e que passasse pelas piores torturas.Segundo ele, sua vida era valiosa; todo mês, recebiam dez milhões para mantê-la viva e "cuidar" dela, sem jamais deixá-la morrer.Ela sabia quem era a mandante. Quem, senão Clarinda?Clarinda queria esmagar sua dignidade, pisoteá-la para sempre.Clarinda, você conseguiu.Finalmente.Juliana contraiu HIV.Ao ver o olhar de desprezo e repulsa daquelas pessoas, Juliana sorriu.Capítulo 2Primeiro de janeiro.Neve caía abundantemente.Fogos de artifício iluminavam o céu.– Juliana Ramos, você já pode sair da prisão.– Depois que sair, tente viver direito, recomece sua vida.Treze anos.Dos vinte e dois aos trinta e cinco anos, ela finalmente tirou aquele uniforme azul-escuro de presidiária.Com o som metálico de um trinco, o pesado portão de ferro foi aberto.A figura magra como um esqueleto saiu lentamente.Os cabelos secos e desalinhados lembravam capim seco no sertão, desgrenhados sobre a cabeça.Ao olhar ao redor, tudo era branco.A luz pálida refletia em seus olhos.Muito ofuscante.Ela ergueu a mão para se proteger da claridade intensa.Ainda assim, abriu discretamente os dedos, ávida por absorver aquele brilho que carregava o sabor da liberdade.Juliana esboçou um sorriso nos lábios rachados, um sorriso amargo e triste.Ha ha!Como ela poderia viver direito novamente?Antes de ser presa, ela era a Srta. Ramos, invejada por todos em Cidade do Mar, uma jovem obediente, educada e culta.Tinha uma irmã, Clarinda Ramos, confiante, otimista e de beleza estonteante.E um noivo com quem estava há quatro anos, Hélder Lemos.Aos dezoito, ele já era a figura mais brilhante de Cidade do Mar, com os negócios da Família Lemos espalhados por todo o Brasil; aos vinte, assumiu o comando da família, tornando-se o mais jovem líder do Grupo Estrela.Aos vinte e dois anos, no dia anterior ao casamento deles.O homem que mais amava, a irmã que mais amava, juntos a entregaram à prisão.– Clarinda, foi você quem viu Juliana cometer o assassinato?– Sim, apesar de ela ser minha irmã, eu não posso ignorar a lei...– Hélder, você tem certeza de que Juliana matou Quitéria Serrano?– Eu, Hélder, nunca sou parcial. Vi com meus próprios olhos, quem matou... foi Juliana.Tanto as provas quanto as testemunhas apontavam para Juliana....As vozes frias e implacáveis eram como pesadelos, ecoando em seus ouvidos, dia após dia.Juliana baixou os olhos e analisou suas roupas velhas e gastas.Um casaco de algodão rasgado, uma calça fina.Num pé, uma meia furada que deixava os dedos expostos; no outro, um sapato velho remendado.Nada daquilo era dela.No dia em que foi presa, estava de vestido de noiva.Com pena dela, as colegas de cela juntaram aquelas roupas para ela.Eram humildes, mas eram as mais quentes que Juliana usara em treze anos.Ouviu atrás de si o portão pesado ser fechado e trancado novamente.Juliana retirou do bolso do casaco um jornal antigo.Viu-se ali, treze anos atrás, de vestido de noiva e algemada, e as lágrimas fluíram sem controle.Gota a gota, caíram sobre o jornal amarelado."Filha da Família Ramos, Juliana, condenada por assassinar Quitéria. Pena de vinte anos."Na prisão, cheia de violência, ela recebeu um "tratamento especial": todos os dias era espancada.O único motivo que a manteve viva era o ódio.Na prisão, esforçou-se para se comportar, conseguindo, por fim, a redução da pena para treze anos.Treze anos!Juliana riu alto, o corpo tremendo, e enquanto ria, lágrimas geladas escorriam por seu rosto áspero.Ela ria de si mesma, de ser uma piada, uma tola aos olhos dos outros.No mesmo mês em que foi presa, o pai, João Ramos, publicou nos jornais que a expulsava da Família Ramos.Ela queria tanto perguntar aos pais por que eram tão parciais!Achou que, se se esforçasse ao máximo, receberia deles o mesmo sorriso carinhoso que davam a Clarinda, ou talvez um abraço afetuoso, um afago nos cabelos.Achou que, se tirasse notas máximas em todas as provas, os pais ficariam felizes e diriam, como faziam com Clarinda: – Minha filha é incrível, a melhor princesinha do mundo...Mas se enganou.Ela não podia ter notas melhores que as de Clarinda.Para agradar aos pais, fingiu ter notas ruins; assim, cada vez que Clarinda recebia incentivo e carinho, ela também sentia, ainda que indiretamente, o amor dos pais.Tudo o que Clarinda gostava, ela precisava entregar de mãos juntas, sem jamais pronunciar um "não".Em casa, tudo o que fazia não tinha valor comparado a uma única lágrima de Clarinda.Bastava Clarinda chorar, e toda a culpa recaía sobre ela.Quando Clarinda fazia manha, eles mimavam.Se Clarinda chorava, eles sentiam pena.Mas ela, por sua vez, precisava sempre medir cada gesto, não podia se aproximar deles, devia obedecer absolutamente.Vivia cada dia em constante temor, com medo de desagradar Clarinda e ser, novamente, alvo das repreensões da família.Se todos gostavam tanto de Clarinda, por que então fizeram tanto alarde ao buscá-la de volta?Ela pensava que, ao retornar para a Família Ramos, tendo pai e mãe, já não seria mais chamada de "filha de ninguém".Acreditava que seus pais ainda a amavam, que todos aqueles anos a haviam procurado incessantemente.Naquele tempo, sentiu-se a pessoa mais feliz do mundo, desejou contar ao mundo inteiro que seus pais a amavam profundamente.Veja só, trouxeram-na de volta à Família Ramos, organizaram até uma grande cerimônia de boas-vindas.Porém, estava enganada, e de maneira irremediável.Bastava uma palavra de Clarinda para que ela voltasse a ser aquela pessoa supérflua, descartável.Eles, como um trio, eram a verdadeira família; ela, por outro lado, era como um inseto saído do esgoto, cobiçando uma vida que jamais deveria ser sua.Ela só queria um pouco de amor, apenas um pouco.Mas Clarinda precisava tirar todo amor ao seu redor, fazendo com que aqueles que a amavam — e os que ela amava — passassem a vê-la como inimiga.Ela também era filha de sua mãe, por que, então, era tratada de modo tão diferente?O passado vinha à tona, cena após cena, como um filme que não parava de se repetir em sua mente.Aquele homem que prometera amá-la para sempre se uniu a Clarinda para entregá-la, com as próprias mãos, à prisão.Ela, Juliana!Ficou sem nada.Uma era presidente do Grupo Estrela em Cidade do Mar, poderosa como poucos; a outra, a joia da coroa do Grupo Ramos.Vingança!Ha!Treze anos de prisão transformaram-na de uma Senhorita que jamais tocara sequer em água fria em alguém desprezada e perseguida por todos.Tudo isso, graças a eles.Parada na encruzilhada, Juliana sentia-se perdida, sem saber para onde ir.Morria de fome.Sem um centavo no bolso.Depois de caminhar por mais de duas horas, viu uma multidão de pessoas, carros indo e vindo.Não sabia onde estava.Cidade do Mar mudara muito.Ela furtou um saco plástico preto que cobria uma lixeira.Seguiu caminhando, vasculhando cada lixeira ao longo do caminho.Guardou tudo o que podia servir no saco, e, de lá, tirou uma marmita de comida que alguém não havia terminado. Limpou a sujeira do recipiente, foi até um canto afastado, agachou-se, abriu a comida e começou a comer.Ignorou os olhares de desprezo e nojo ao seu redor, devorando a comida em poucos segundos, limpando o recipiente até não restar mais nada.— Nossa Clarinda é incrível, viu? Ontem assisti à live e chorei meia hora; finalmente ela ganhou o prêmio de melhor atriz.— Pois é, eu também! Quando ela chorou, também chorei. O Sr. Lemos deu a ela um anel de diamante de dez quilates na hora, nossa, que sonho.— A deusa é mesmo uma vencedora, tem uma carreira brilhante, um marido lindo e rico, e ouvi dizer que está esperando o segundo filho...Algumas jovens fãs, com olhares de admiração, encaravam a imagem da estrela no telão.A pessoa agachada no canto deixou um leve brilho passar pelo olhar vazio e sem vida; lentamente, ergueu a cabeça para o painel publicitário acima.Os olhos de âmbar reluziam de veneno, incandescentes de ódio.Apertou o punho, relaxou, apertou de novo, os dedos marcando a palma, sem sentir dor alguma.Treze anos, 4745 dias.Clarinda, fui eu quem pagou a pena por você.Vivi cada dia em sofrimento e angústia, como pode viver com tanta tranquilidade?Ela parecia ainda ser capaz de ouvir as vozes do passado vindas de fora.— Srta. Ramos, realmente não dava para imaginar. Matou a noiva do próprio irmão só porque tinha medo que, depois que Sávio Ramos ficasse com a Quitéria, ele não gostasse mais dela.— Que crueldade, queimou a Quitéria viva!— Ela nunca foi uma boa pessoa, tinha inveja porque a Clarinda era melhor em tudo. Na escola, sempre se juntava com outros para intimidar a Clarinda. Só não foi exposto porque ela era a filha que a Família Ramos demorou tanto para reencontrar.— Quitéria era futura cunhada dela, até ciúmes da própria cunhada teve, que falta de vergonha. Tinha mesmo era que ser condenada à morte.— Quem mata deve pagar com a vida, quem mata deve pagar com a vida...Todos no tribunal a acusavam e a insultavam severamente.Ela olhou para as pessoas presentes com um olhar vazio e desesperançado.Seu pai e sua mãe.Sua irmã.Seu noivo.Sua melhor amiga.A pessoa em quem mais confiava...Todos, do alto de sua moralidade, denunciavam seus crimes. Sua mãe chorava e pedia que ela morresse, apenas porque seus pecados afetavam o futuro da irmã.Ela tentou se defender incansavelmente, dizendo que Juliana não era assassina, que fora Clarinda quem cometera o crime, que Clarinda era a verdadeira culpada.Mas, diante de provas irrefutáveis, ninguém acreditou nela.Todos diziam que, mesmo diante das evidências, ela ainda tentava difamar a inocente irmã. A Família Ramos não teria uma filha tão maldosa.Os que a temiam, a acusavam.Os que a amavam, desejavam sua morte....Anoiteceu.Um Santana preto parou ao lado de uma lixeira; alguns homens fortes desceram do carro e, rapidamente, colocaram a mulher que dormia encolhida no chão em um saco, arrastando-a para dentro do veículo.Atordoada, ela ouviu uma voz familiar.— Querida irmã, não imaginei que sairia tão cedo, então vim especialmente te buscar. Vamos para casa, aproveitar a vida.— Ah, quase esqueci de te contar, todas as pessoas que você se importava já morreram, todas!— Hélder é meu marido, hum... esse seu rosto me irrita tanto, que vou te mandar para um lugar bem especial, para você aproveitar bastante... Hahaha...— Hum, parece que sua vida na prisão não foi tão ruim assim, conseguiu sair viva...Juliana tentou se debater para falar, mas percebeu que não conseguia emitir som algum.Ouvindo a risada sanguinária da mulher, ela queria avançar e matá-la, mordê-la até a morte!Porém, sua consciência foi se esvaindo pouco a pouco, as mãos caíram sem forças, até que desmaiou por completo.*Um ano e meio depois.Fronteira do norte da Ásia.No porão úmido e frio, Juliana permanecia sentada no chão, em estado de torpor.Moscas zumbiam ao seu redor sem cessar; anos sem banho faziam com que exalasse um cheiro horrível.Clarinda a vendera para o norte.Aquele lugar era um verdadeiro inferno na Terra. Ela presenciou pessoas vivas sendo esquartejadas no instante seguinte.Aquelas pessoas eram monstruosas, buscando órgãos nos membros amputados...Logo que chegou, ela e mais de dez mulheres foram trancadas nuas no mesmo cômodo.Ali, a primeira etapa era se tornar escrava dos homens.Juliana resistiu até o fim, tentando suicidar-se mordendo a língua.A língua partiu, mas ela não morreu!Arrastaram-na para um quarto escuro, onde sofreu espancamentos e torturas indescritíveis.Ela só queria morrer, mas eles não permitiam.Um dos chefes disse que alguém havia dado ordens para que ela sofresse ali todo tipo de abuso, com milhares de homens, e que passasse pelas piores torturas.Segundo ele, sua vida era valiosa; todo mês, recebiam dez milhões para mantê-la viva e "cuidar" dela, sem jamais deixá-la morrer.Ela sabia quem era a mandante. Quem, senão Clarinda?Clarinda queria esmagar sua dignidade, pisoteá-la para sempre.Clarinda, você conseguiu.Finalmente.Juliana contraiu HIV.Ao ver o olhar de desprezo e repulsa daquelas pessoas, Juliana sorriu.Capítulo 3Primeiro de janeiro.Neve caía abundantemente.Fogos de artifício iluminavam o céu.– Juliana Ramos, você já pode sair da prisão.– Depois que sair, tente viver direito, recomece sua vida.Treze anos.Dos vinte e dois aos trinta e cinco anos, ela finalmente tirou aquele uniforme azul-escuro de presidiária.Com o som metálico de um trinco, o pesado portão de ferro foi aberto.A figura magra como um esqueleto saiu lentamente.Os cabelos secos e desalinhados lembravam capim seco no sertão, desgrenhados sobre a cabeça.Ao olhar ao redor, tudo era branco.A luz pálida refletia em seus olhos.Muito ofuscante.Ela ergueu a mão para se proteger da claridade intensa.Ainda assim, abriu discretamente os dedos, ávida por absorver aquele brilho que carregava o sabor da liberdade.Juliana esboçou um sorriso nos lábios rachados, um sorriso amargo e triste.Ha ha!Como ela poderia viver direito novamente?Antes de ser presa, ela era a Srta. Ramos, invejada por todos em Cidade do Mar, uma jovem obediente, educada e culta.Tinha uma irmã, Clarinda Ramos, confiante, otimista e de beleza estonteante.E um noivo com quem estava há quatro anos, Hélder Lemos.Aos dezoito, ele já era a figura mais brilhante de Cidade do Mar, com os negócios da Família Lemos espalhados por todo o Brasil; aos vinte, assumiu o comando da família, tornando-se o mais jovem líder do Grupo Estrela.Aos vinte e dois anos, no dia anterior ao casamento deles.O homem que mais amava, a irmã que mais amava, juntos a entregaram à prisão.– Clarinda, foi você quem viu Juliana cometer o assassinato?– Sim, apesar de ela ser minha irmã, eu não posso ignorar a lei...– Hélder, você tem certeza de que Juliana matou Quitéria Serrano?– Eu, Hélder, nunca sou parcial. Vi com meus próprios olhos, quem matou... foi Juliana.Tanto as provas quanto as testemunhas apontavam para Juliana....As vozes frias e implacáveis eram como pesadelos, ecoando em seus ouvidos, dia após dia.Juliana baixou os olhos e analisou suas roupas velhas e gastas.Um casaco de algodão rasgado, uma calça fina.Num pé, uma meia furada que deixava os dedos expostos; no outro, um sapato velho remendado.Nada daquilo era dela.No dia em que foi presa, estava de vestido de noiva.Com pena dela, as colegas de cela juntaram aquelas roupas para ela.Eram humildes, mas eram as mais quentes que Juliana usara em treze anos.Ouviu atrás de si o portão pesado ser fechado e trancado novamente.Juliana retirou do bolso do casaco um jornal antigo.Viu-se ali, treze anos atrás, de vestido de noiva e algemada, e as lágrimas fluíram sem controle.Gota a gota, caíram sobre o jornal amarelado."Filha da Família Ramos, Juliana, condenada por assassinar Quitéria. Pena de vinte anos."Na prisão, cheia de violência, ela recebeu um "tratamento especial": todos os dias era espancada.O único motivo que a manteve viva era o ódio.Na prisão, esforçou-se para se comportar, conseguindo, por fim, a redução da pena para treze anos.Treze anos!Juliana riu alto, o corpo tremendo, e enquanto ria, lágrimas geladas escorriam por seu rosto áspero.Ela ria de si mesma, de ser uma piada, uma tola aos olhos dos outros.No mesmo mês em que foi presa, o pai, João Ramos, publicou nos jornais que a expulsava da Família Ramos.Ela queria tanto perguntar aos pais por que eram tão parciais!Achou que, se se esforçasse ao máximo, receberia deles o mesmo sorriso carinhoso que davam a Clarinda, ou talvez um abraço afetuoso, um afago nos cabelos.Achou que, se tirasse notas máximas em todas as provas, os pais ficariam felizes e diriam, como faziam com Clarinda: – Minha filha é incrível, a melhor princesinha do mundo...Mas se enganou.Ela não podia ter notas melhores que as de Clarinda.Para agradar aos pais, fingiu ter notas ruins; assim, cada vez que Clarinda recebia incentivo e carinho, ela também sentia, ainda que indiretamente, o amor dos pais.Tudo o que Clarinda gostava, ela precisava entregar de mãos juntas, sem jamais pronunciar um "não".Em casa, tudo o que fazia não tinha valor comparado a uma única lágrima de Clarinda.Bastava Clarinda chorar, e toda a culpa recaía sobre ela.Quando Clarinda fazia manha, eles mimavam.Se Clarinda chorava, eles sentiam pena.Mas ela, por sua vez, precisava sempre medir cada gesto, não podia se aproximar deles, devia obedecer absolutamente.Vivia cada dia em constante temor, com medo de desagradar Clarinda e ser, novamente, alvo das repreensões da família.Se todos gostavam tanto de Clarinda, por que então fizeram tanto alarde ao buscá-la de volta?Ela pensava que, ao retornar para a Família Ramos, tendo pai e mãe, já não seria mais chamada de "filha de ninguém".Acreditava que seus pais ainda a amavam, que todos aqueles anos a haviam procurado incessantemente.Naquele tempo, sentiu-se a pessoa mais feliz do mundo, desejou contar ao mundo inteiro que seus pais a amavam profundamente.Veja só, trouxeram-na de volta à Família Ramos, organizaram até uma grande cerimônia de boas-vindas.Porém, estava enganada, e de maneira irremediável.Bastava uma palavra de Clarinda para que ela voltasse a ser aquela pessoa supérflua, descartável.Eles, como um trio, eram a verdadeira família; ela, por outro lado, era como um inseto saído do esgoto, cobiçando uma vida que jamais deveria ser sua.Ela só queria um pouco de amor, apenas um pouco.Mas Clarinda precisava tirar todo amor ao seu redor, fazendo com que aqueles que a amavam — e os que ela amava — passassem a vê-la como inimiga.Ela também era filha de sua mãe, por que, então, era tratada de modo tão diferente?O passado vinha à tona, cena após cena, como um filme que não parava de se repetir em sua mente.Aquele homem que prometera amá-la para sempre se uniu a Clarinda para entregá-la, com as próprias mãos, à prisão.Ela, Juliana!Ficou sem nada.Uma era presidente do Grupo Estrela em Cidade do Mar, poderosa como poucos; a outra, a joia da coroa do Grupo Ramos.Vingança!Ha!Treze anos de prisão transformaram-na de uma Senhorita que jamais tocara sequer em água fria em alguém desprezada e perseguida por todos.Tudo isso, graças a eles.Parada na encruzilhada, Juliana sentia-se perdida, sem saber para onde ir.Morria de fome.Sem um centavo no bolso.Depois de caminhar por mais de duas horas, viu uma multidão de pessoas, carros indo e vindo.Não sabia onde estava.Cidade do Mar mudara muito.Ela furtou um saco plástico preto que cobria uma lixeira.Seguiu caminhando, vasculhando cada lixeira ao longo do caminho.Guardou tudo o que podia servir no saco, e, de lá, tirou uma marmita de comida que alguém não havia terminado. Limpou a sujeira do recipiente, foi até um canto afastado, agachou-se, abriu a comida e começou a comer.Ignorou os olhares de desprezo e nojo ao seu redor, devorando a comida em poucos segundos, limpando o recipiente até não restar mais nada.— Nossa Clarinda é incrível, viu? Ontem assisti à live e chorei meia hora; finalmente ela ganhou o prêmio de melhor atriz.— Pois é, eu também! Quando ela chorou, também chorei. O Sr. Lemos deu a ela um anel de diamante de dez quilates na hora, nossa, que sonho.— A deusa é mesmo uma vencedora, tem uma carreira brilhante, um marido lindo e rico, e ouvi dizer que está esperando o segundo filho...Algumas jovens fãs, com olhares de admiração, encaravam a imagem da estrela no telão.A pessoa agachada no canto deixou um leve brilho passar pelo olhar vazio e sem vida; lentamente, ergueu a cabeça para o painel publicitário acima.Os olhos de âmbar reluziam de veneno, incandescentes de ódio.Apertou o punho, relaxou, apertou de novo, os dedos marcando a palma, sem sentir dor alguma.Treze anos, 4745 dias.Clarinda, fui eu quem pagou a pena por você.Vivi cada dia em sofrimento e angústia, como pode viver com tanta tranquilidade?Ela parecia ainda ser capaz de ouvir as vozes do passado vindas de fora.— Srta. Ramos, realmente não dava para imaginar. Matou a noiva do próprio irmão só porque tinha medo que, depois que Sávio Ramos ficasse com a Quitéria, ele não gostasse mais dela.— Que crueldade, queimou a Quitéria viva!— Ela nunca foi uma boa pessoa, tinha inveja porque a Clarinda era melhor em tudo. Na escola, sempre se juntava com outros para intimidar a Clarinda. Só não foi exposto porque ela era a filha que a Família Ramos demorou tanto para reencontrar.— Quitéria era futura cunhada dela, até ciúmes da própria cunhada teve, que falta de vergonha. Tinha mesmo era que ser condenada à morte.— Quem mata deve pagar com a vida, quem mata deve pagar com a vida...Todos no tribunal a acusavam e a insultavam severamente.Ela olhou para as pessoas presentes com um olhar vazio e desesperançado.Seu pai e sua mãe.Sua irmã.Seu noivo.Sua melhor amiga.A pessoa em quem mais confiava...Todos, do alto de sua moralidade, denunciavam seus crimes. Sua mãe chorava e pedia que ela morresse, apenas porque seus pecados afetavam o futuro da irmã.Ela tentou se defender incansavelmente, dizendo que Juliana não era assassina, que fora Clarinda quem cometera o crime, que Clarinda era a verdadeira culpada.Mas, diante de provas irrefutáveis, ninguém acreditou nela.Todos diziam que, mesmo diante das evidências, ela ainda tentava difamar a inocente irmã. A Família Ramos não teria uma filha tão maldosa.Os que a temiam, a acusavam.Os que a amavam, desejavam sua morte....Anoiteceu.Um Santana preto parou ao lado de uma lixeira; alguns homens fortes desceram do carro e, rapidamente, colocaram a mulher que dormia encolhida no chão em um saco, arrastando-a para dentro do veículo.Atordoada, ela ouviu uma voz familiar.— Querida irmã, não imaginei que sairia tão cedo, então vim especialmente te buscar. Vamos para casa, aproveitar a vida.— Ah, quase esqueci de te contar, todas as pessoas que você se importava já morreram, todas!— Hélder é meu marido, hum... esse seu rosto me irrita tanto, que vou te mandar para um lugar bem especial, para você aproveitar bastante... Hahaha...— Hum, parece que sua vida na prisão não foi tão ruim assim, conseguiu sair viva...Juliana tentou se debater para falar, mas percebeu que não conseguia emitir som algum.Ouvindo a risada sanguinária da mulher, ela queria avançar e matá-la, mordê-la até a morte!Porém, sua consciência foi se esvaindo pouco a pouco, as mãos caíram sem forças, até que desmaiou por completo.*Um ano e meio depois.Fronteira do norte da Ásia.No porão úmido e frio, Juliana permanecia sentada no chão, em estado de torpor.Moscas zumbiam ao seu redor sem cessar; anos sem banho faziam com que exalasse um cheiro horrível.Clarinda a vendera para o norte.Aquele lugar era um verdadeiro inferno na Terra. Ela presenciou pessoas vivas sendo esquartejadas no instante seguinte.Aquelas pessoas eram monstruosas, buscando órgãos nos membros amputados...Logo que chegou, ela e mais de dez mulheres foram trancadas nuas no mesmo cômodo.Ali, a primeira etapa era se tornar escrava dos homens.Juliana resistiu até o fim, tentando suicidar-se mordendo a língua.A língua partiu, mas ela não morreu!Arrastaram-na para um quarto escuro, onde sofreu espancamentos e torturas indescritíveis.Ela só queria morrer, mas eles não permitiam.Um dos chefes disse que alguém havia dado ordens para que ela sofresse ali todo tipo de abuso, com milhares de homens, e que passasse pelas piores torturas.Segundo ele, sua vida era valiosa; todo mês, recebiam dez milhões para mantê-la viva e "cuidar" dela, sem jamais deixá-la morrer.Ela sabia quem era a mandante. Quem, senão Clarinda?Clarinda queria esmagar sua dignidade, pisoteá-la para sempre.Clarinda, você conseguiu.Finalmente.Juliana contraiu HIV.Ao ver o olhar de desprezo e repulsa daquelas pessoas, Juliana sorriu.

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