Capítulo 1Dentro da suíte do hotel, o clima esteve quente e intenso.Um corpo delicado e curvilíneo montava sobre o homem, tentando com ansiedade e nervosismo abrir os botões da camisa dele. No entanto, seus dedos estavam fracos e, apesar de tentar por um bom tempo, não conseguiu.Uma mão quente segurou a dela com firmeza, e uma voz rouca soou:“Você sabe o que está fazendo? Fique lúcida, chamei um médico para vir aqui.”Sob o efeito do medicamento, Alana Carvalho perdeu completamente a razão. Seu corpo ardia de desejo, insuportavelmente inquieto, e ela franziu as sobrancelhas, apressando-o.“Me ajuda~”Venâncio Nogueira baixou o olhar, os olhos escurecidos como uma fera na mata, fixando a mulher sobre ele.Os traços delicados do rosto, sob o efeito do remédio, adquiriram um charme sedutor; o rubor tingiu-lhe as faces, os olhos estavam turvos, e os lábios entreabertos, carnudos e convidativos.O vestido curto de estampa floral lilás se ajustava perfeitamente ao corpo curvilíneo dela, unindo inocência e desejo.Sem resposta por tanto tempo, Alana se irritou, batendo de leve no peito rígido do homem, e reclamou com uma voz mimada:“Você consegue ou não? Se não, chame outro!”As mãos que seguravam sua cintura se apertaram de repente, e o olhar dele ficou ainda mais intenso. Ele respondeu em tom grave, com um aviso:“Você está querendo outro?”Alana quase enlouqueceu de tanto sofrimento.Naquele dia, ela havia acabado de ser trazida de volta para a família Carvalho; seus pais, Camila e Pedro, pediram a Daniel Carvalho e Beatriz Carvalho que a levassem para se divertir.Beatriz deixava claro no rosto o quanto não gostava dela; Daniel era superprotetor com a irmã, então os dois a abandonaram em um bar e foram embora.Sabendo-se deslocada, somado ao desânimo, Alana acabou bebendo alguns copos a mais.Durante esse tempo, várias pessoas vieram puxar conversa. Embora estivesse atenta, não conseguiu evitar a malícia de alguém e, em algum momento, foi drogada.Depois, acabou sendo salva pelo homem à sua frente, mas o efeito do remédio era forte demais. Se não fosse pela falta de alternativas — e pela beleza dele — Alana jamais teria agarrado o próprio salvador e levado para a cama.Mas será que ele era mesmo homem?!Seria um ninja das Tartarugas?Ela já tinha sido tão direta, e mesmo assim ele não se entregava!Sentia como se milhares de formigas a mordessem por dentro, a coceira era insuportável.O remédio inflou seu desejo, e o impulso primitivo fez Alana ansiar desesperadamente por alívio.Ela agarrou a gola da camisa do homem, inclinou-se e o beijou nos lábios.O olhar sedutor, o canto dos olhos levantado, era como uma pluma acariciando o coração dele.Guiou a mão dele até a própria coxa e, com um pequeno movimento, ele poderia descobrir todos os seus segredos.A voz de Alana soou suave, sem se dar conta do quanto estava sedutora naquele momento.“Eu quero você~”De repente, como uma erupção vulcânica, a razão de Venâncio se rompeu.Já lutava para se controlar, mas, provocado daquela forma, não precisava mais fingir santidade.Virou-se, prendendo-a sob seu corpo, e advertiu com a voz rouca:“Você pediu por isso.”O braço alvo de Alana subiu até os ombros dele; ela beijou de leve os lábios do homem, com voz doce e suave:“Me dá~”O beijo feroz abafou a voz sedutora dela, mas ainda assim pequenos gemidos escaparam.Nas mãos de Venâncio, as roupas incômodas logo foram ao chão, e seus corpos se entrelaçaram fortemente.A ampla e silenciosa suíte ganhou um novo tom de paixão, o clima tornou-se denso e envolvente.Só quando a lua já se punha e o desejo se dissipava, a noite chegou ao fim.-Alana acordou no dia seguinte com a luz forte entrando pela janela; na pressa da noite anterior, havia esquecido de fechar as cortinas.Não imaginava que, no seu primeiro dia de volta a Vento Sul, acabaria dormindo com um desconhecido.Mais um marco em sua vida, sem saber se era motivo de orgulho ou de tristeza.No entanto, aquilo jamais poderia ser descoberto, especialmente pela família Carvalho.Alana, suportando as dores pelo corpo, levantou-se devagar; suas roupas estavam espalhadas no tapete.Antes que seus pés tocassem o chão, um braço a envolveu pela cintura, puxando-a para trás, de encontro ao peito nu e firme.Uma voz preguiçosa, recém-desperta, soou em seu ouvido — grave e sedutora, fazendo seu coração disparar.Aquele mesmo tom havia sussurrado nela a noite inteira.“Depois de dormir comigo, já quer fugir?”Capítulo 2Alana virou-se levemente apreensiva e encontrou o olhar sarcástico do homem.Em estado sóbrio, Alana percebeu que aquele homem era ainda mais bonito do que imaginara.Seu rosto tinha traços marcantes e definidos, feições perfeitas, nariz reto e imponente, olhos de fênix, profundos e orgulhosos sob sobrancelhas delineadas.Cada traço isolado já era de uma perfeição notável, quanto mais todos juntos em um só rosto.No entanto, a beleza daquele homem era algo cortante, agressiva, quase ameaçadora.Em resumo, uma beleza de tirar o fôlego.Alana pensou instintivamente que, na noite passada, fora ela quem saiu ganhando.Porém, o que acontecera na noite anterior, lá deveria ficar; prolongar aquilo não fazia sentido.Sua situação atual era delicada, não havia necessidade de buscar mais problemas para si mesma.O braço do homem ainda repousava na cintura de Alana; sob o cobertor, os dois corpos nus se tocavam, transmitindo um calor intenso.Alana empurrou o peito do homem, como uma mulher experiente que já passara por muitos romances, e falou em tom frio:"Um homem desse tamanho, não me diga que quer que eu assuma alguma responsabilidade?"Venâncio arqueou as sobrancelhas."Na noite passada, fui eu quem te salvou."Seja do assédio de um grupo de homens ou dos efeitos das drogas."Não foi justamente por isso que me entreguei?" Alana respondeu, como se fosse a coisa mais natural do mundo.Entregar-se fisicamente não parecia nada demais."Com essa habilidade de distorcer argumentos, por que não virar advogada de defesa?" A voz do homem soou um pouco fria."Por acaso você quer que eu me case com você?"Alana levantou o pulso delicado e deu leves tapinhas no ombro do homem."Na sua profissão, a pior coisa é se apaixonar por um cliente."Venâncio franziu as sobrancelhas, e o brilho profundo de seus olhos escureceu.Cliente?O que ela pensava dele, afinal?Olhando para o rosto "desapegado" de Alana, não havia mais traço algum da fragilidade suplicante da noite anterior.Já havia visto pessoas que aproveitavam e depois sumiam, mas nunca alguém tão fria e distante quanto ela.Alana sentou-se na cama, curvou-se para pegar suas roupas, e seus cabelos encaracolados deslizaram, revelando as costas finas e alvas.Venâncio, recostado na cabeceira, semicerrava os olhos; as marcas avermelhadas pelo corpo dela eram todas obra dele da noite anterior.Claramente, na noite anterior, ela parecia grudada nele; agora, virava as costas com indiferença. De fato, era uma mulher sem coração.Alana vestiu-se, pegou o celular do homem, desbloqueou com reconhecimento facial, encontrou o código de recebimento e transferiu dez mil reais para ele."Isso já está muito acima do valor de mercado. Espero que você mantenha o profissionalismo, não me procure e não comente sobre o que aconteceu ontem."Sem olhar para a expressão do homem, Alana simplesmente saiu.No primeiro dia de volta à família Carvalho, passara a noite fora, o que não era nada justificável. Precisava retornar rapidamente.Ao sair do quarto, Alana não conseguiu mais manter a postura e se apoiou, exausta, na parede.Droga, quem afinal tomou o remédio ontem?!Seu corpo doía terrivelmente!Na hora de se vestir, suas mãos tremiam, sem saber se o homem percebera. Mas, movida por aquele maldito espírito competitivo, ela se forçou a não demonstrar fraqueza.Logo em sua primeira vez, encontrou alguém tão experiente. Não sabia se isso era sorte ou azar.No meio do caminho, Alana parou de repente, levando a mão ao pescoço.Droga!Sua joia de jade, que sempre usava, ficara no hotel.Na noite anterior, durante uma troca de carícias, ela dissera: "Está gelado~", e o homem parou, chamou-a de "sensível", mas ainda assim tirou o pingente de jade para ela.Quando voltou ao hotel, o homem já não estava mais lá.Uma funcionária da limpeza arrumava o quarto e disse que não vira nenhum objeto esquecido.Alana saiu desapontada, sem saber o nome ou contato do homem, sem pistas de como recuperar seu pertence.Aquela joia tinha grande valor sentimental, um presente dos pais adotivos trazido de uma igreja, e que ela usava havia muitos anos.Voltou cabisbaixa para a família Carvalho, só para descobrir que ninguém sequer notara sua ausência.Fazia sentido, afinal, não havia recebido nenhuma mensagem ou ligação no celular.Os quatro membros da família Carvalho estavam sentados felizes na sala de estar, ouvindo Beatriz contar alguma história engraçada, e todos olhavam para ela com muito carinho.Aquela sim era uma verdadeira família; Alana se sentia uma intrusa, incapaz de se encaixar, quase atrapalhando a felicidade alheia."Alana, saiu tão cedo para onde?" a mãe de Alana, Camila, percebeu sua chegada.Ela nem notara que Alana não havia dormido em casa na noite anterior.Alana mordeu os lábios e aproveitou para explicar:"Perdi uma coisa ontem à noite, saí para procurar.""O que foi? É algo importante?""O que ela poderia ter de valor!" Beatriz respondeu com sarcasmo. "Alana, agora que está na família Carvalho, pare de agir como se fosse miserável, senão vão achar que estamos falidos!""Beatriz!" Camila repreendeu com firmeza, mas Beatriz apenas deu de ombros e fez careta."Não é nada, vou subir para descansar."Estava exausta.Mais cansada do que na maratona da noite anterior.Seu quarto ficava no fim do corredor do segundo andar.Isolado, discreto, assim como seu papel naquela casa.Mal iluminado e pequeno, parecia ter sido improvisado às pressas a partir de um antigo depósito.Alana deitou-se na cama, cobrindo-se firmemente com o edredom, enquanto a tristeza lentamente crescia em seu peito.Não sabia se era pelo sentimento de ser uma hóspede indesejada, incapaz de se integrar àquela vida.Ou pela perda da joia de jade.Ou ainda por ter entregue sua primeira vez a um desconhecido.De qualquer forma, nenhuma dessas situações era algo que ela já tivesse desejado.Ela não entendia por que a família Carvalho havia decidido aceitá-la de volta.“Aquele ali é a filha bastarda que a família Carvalho acabou de trazer de volta?”“Uma caipira do interior, como ela ousou participar da nossa reunião?”“Camila e Pedro sempre foram tão apaixonados, ninguém esperava que ele tivesse uma filha ilegítima fora de casa.”Desde o momento em que Alana apareceu, os comentários sussurrados não cessaram nem por um instante.Ela fingiu não ouvir, sentando-se calmamente em um canto, fitando silenciosamente o copo à sua frente.O líquido dourado parecia ainda mais profundo sob a luz tênue; os cubos de gelo embebidos em conhaque derretiam-se silenciosamente.Aquela reunião fora organizada por Daniel e Beatriz, com o propósito de apresentá-la ao círculo social deles.Inicialmente, Beatriz não aceitara a ideia, ninguém sabia como Camila a havia convencido, mas no final o evento foi realizado.Disseram que seria para ela conhecer as pessoas do círculo, mas durante toda a noite, ninguém lhe deu atenção.Bem, exceto no início.Beatriz, com seu tom sarcástico, zombou abertamente da sua origem, e todos os olhares dirigidos a Alana eram de deboche e desdém.Os comentários das garotas ao lado tornaram-se mais audíveis, quase apontando o dedo no rosto de Alana para falar mal dela.Insuportável.Alana levantou o olhar e sorriu para elas com doçura, seus olhos transmitiam bondade e serenidade, mas, inexplicavelmente, deixavam as outras inseguras.“Se as senhoritas têm tanto interesse na minha origem, eu posso levá-las à minha casa para perguntar aos meus parentes.”As duas garotas calaram-se a contragosto, desviando o olhar, sentindo-se culpadas.Apesar da situação embaraçosa de Alana,a família Carvalho era alguém que elas não podiam desafiar.Finalmente, o ambiente ficou mais tranquilo.Durante toda a festa, Beatriz circulou como uma borboleta, socializando com todos, mas seus olhares disfarçados sempre recaíam sobre Alana.Alana sabia que Beatriz fazia aquilo propositalmente.Quando um estranho invade um círculo fechado, sempre há quem tema pela própria posição, então encenam diante do novo membro o quão forte são seus laços.Alana achou aquilo um tanto risível; nunca pensara em se envolver com eles, tampouco em disputar o que quer que fosse.Mas, compreendia. Afinal, sua existência representava, para a família Carvalho e especialmente para Beatriz — tão mimada e certa do amor paterno — um golpe devastador.Porém, toda essa raiva e insegurança transformavam-se em armas afiadas, manifestadas por meio de palavras mordazes, que cortavam fundo.Aquele grupo era composto de amigos de infância dos irmãos Carvalho ou de pessoas que buscavam bajulá-los, naturalmente menosprezando Alana.Ao fim da reunião, Alana fora alvo de zombarias e indiretas de todos os tipos.“Ela veio do interior, nunca viu nada disso aqui. Não entende nem um pouco das nossas brincadeiras, deixa pra lá.”“Aos dezoito, quando veio para nossa casa, já queria ficar. Até hoje não desistiu! Ninguém sabe como conseguiu convencer meu pai, mas ele realmente a trouxe de volta para casa!”Alana ergueu levemente as pálpebras, observando Beatriz se vangloriar sem parar. Daniel interveio algumas vezes, mas, no fim, sempre mimou a irmã, deixando-a livre.Conversaram a noite inteira, sem se preocupar em ficar com sede.Nesse momento, um homem entrou pela porta. Imediatamente, Beatriz correu até ele como um míssil, os olhos semicerrados, as maçãs do rosto erguidas, e disse num tom meloso:“Venâncio, que bom que você veio~”Ao reconhecer quem era, Alana arregalou os olhos instantaneamente.O recém-chegado tinha postura elegante, entregou o paletó casualmente ao garçom.A camisa preta estava enfiada na calça social, moldando ombros largos, cintura fina e pernas longas. Dois botões abertos no colarinho deixavam entrever o peito definido.O olhar do homem era gélido, a expressão fria, exibindo ao máximo o ar de indolência e nobreza.Era justamente o homem com quem ela passara aquela noite.O primeiro pensamento de Alana foi —O garoto de programa a havia encontrado.Mas, ao ver todos se levantando para cumprimentá-lo, e diante do entusiasmo de Beatriz, Alana pensou —Capítulo 3Alana virou-se levemente apreensiva e encontrou o olhar sarcástico do homem.Em estado sóbrio, Alana percebeu que aquele homem era ainda mais bonito do que imaginara.Seu rosto tinha traços marcantes e definidos, feições perfeitas, nariz reto e imponente, olhos de fênix, profundos e orgulhosos sob sobrancelhas delineadas.Cada traço isolado já era de uma perfeição notável, quanto mais todos juntos em um só rosto.No entanto, a beleza daquele homem era algo cortante, agressiva, quase ameaçadora.Em resumo, uma beleza de tirar o fôlego.Alana pensou instintivamente que, na noite passada, fora ela quem saiu ganhando.Porém, o que acontecera na noite anterior, lá deveria ficar; prolongar aquilo não fazia sentido.Sua situação atual era delicada, não havia necessidade de buscar mais problemas para si mesma.O braço do homem ainda repousava na cintura de Alana; sob o cobertor, os dois corpos nus se tocavam, transmitindo um calor intenso.Alana empurrou o peito do homem, como uma mulher experiente que já passara por muitos romances, e falou em tom frio:"Um homem desse tamanho, não me diga que quer que eu assuma alguma responsabilidade?"Venâncio arqueou as sobrancelhas."Na noite passada, fui eu quem te salvou."Seja do assédio de um grupo de homens ou dos efeitos das drogas."Não foi justamente por isso que me entreguei?" Alana respondeu, como se fosse a coisa mais natural do mundo.Entregar-se fisicamente não parecia nada demais."Com essa habilidade de distorcer argumentos, por que não virar advogada de defesa?" A voz do homem soou um pouco fria."Por acaso você quer que eu me case com você?"Alana levantou o pulso delicado e deu leves tapinhas no ombro do homem."Na sua profissão, a pior coisa é se apaixonar por um cliente."Venâncio franziu as sobrancelhas, e o brilho profundo de seus olhos escureceu.Cliente?O que ela pensava dele, afinal?Olhando para o rosto "desapegado" de Alana, não havia mais traço algum da fragilidade suplicante da noite anterior.Já havia visto pessoas que aproveitavam e depois sumiam, mas nunca alguém tão fria e distante quanto ela.Alana sentou-se na cama, curvou-se para pegar suas roupas, e seus cabelos encaracolados deslizaram, revelando as costas finas e alvas.Venâncio, recostado na cabeceira, semicerrava os olhos; as marcas avermelhadas pelo corpo dela eram todas obra dele da noite anterior.Claramente, na noite anterior, ela parecia grudada nele; agora, virava as costas com indiferença. De fato, era uma mulher sem coração.Alana vestiu-se, pegou o celular do homem, desbloqueou com reconhecimento facial, encontrou o código de recebimento e transferiu dez mil reais para ele."Isso já está muito acima do valor de mercado. Espero que você mantenha o profissionalismo, não me procure e não comente sobre o que aconteceu ontem."Sem olhar para a expressão do homem, Alana simplesmente saiu.No primeiro dia de volta à família Carvalho, passara a noite fora, o que não era nada justificável. Precisava retornar rapidamente.Ao sair do quarto, Alana não conseguiu mais manter a postura e se apoiou, exausta, na parede.Droga, quem afinal tomou o remédio ontem?!Seu corpo doía terrivelmente!Na hora de se vestir, suas mãos tremiam, sem saber se o homem percebera. Mas, movida por aquele maldito espírito competitivo, ela se forçou a não demonstrar fraqueza.Logo em sua primeira vez, encontrou alguém tão experiente. Não sabia se isso era sorte ou azar.No meio do caminho, Alana parou de repente, levando a mão ao pescoço.Droga!Sua joia de jade, que sempre usava, ficara no hotel.Na noite anterior, durante uma troca de carícias, ela dissera: "Está gelado~", e o homem parou, chamou-a de "sensível", mas ainda assim tirou o pingente de jade para ela.Quando voltou ao hotel, o homem já não estava mais lá.Uma funcionária da limpeza arrumava o quarto e disse que não vira nenhum objeto esquecido.Alana saiu desapontada, sem saber o nome ou contato do homem, sem pistas de como recuperar seu pertence.Aquela joia tinha grande valor sentimental, um presente dos pais adotivos trazido de uma igreja, e que ela usava havia muitos anos.Voltou cabisbaixa para a família Carvalho, só para descobrir que ninguém sequer notara sua ausência.Fazia sentido, afinal, não havia recebido nenhuma mensagem ou ligação no celular.Os quatro membros da família Carvalho estavam sentados felizes na sala de estar, ouvindo Beatriz contar alguma história engraçada, e todos olhavam para ela com muito carinho.Aquela sim era uma verdadeira família; Alana se sentia uma intrusa, incapaz de se encaixar, quase atrapalhando a felicidade alheia."Alana, saiu tão cedo para onde?" a mãe de Alana, Camila, percebeu sua chegada.Ela nem notara que Alana não havia dormido em casa na noite anterior.Alana mordeu os lábios e aproveitou para explicar:"Perdi uma coisa ontem à noite, saí para procurar.""O que foi? É algo importante?""O que ela poderia ter de valor!" Beatriz respondeu com sarcasmo. "Alana, agora que está na família Carvalho, pare de agir como se fosse miserável, senão vão achar que estamos falidos!""Beatriz!" Camila repreendeu com firmeza, mas Beatriz apenas deu de ombros e fez careta."Não é nada, vou subir para descansar."Estava exausta.Mais cansada do que na maratona da noite anterior.Seu quarto ficava no fim do corredor do segundo andar.Isolado, discreto, assim como seu papel naquela casa.Mal iluminado e pequeno, parecia ter sido improvisado às pressas a partir de um antigo depósito.Alana deitou-se na cama, cobrindo-se firmemente com o edredom, enquanto a tristeza lentamente crescia em seu peito.Não sabia se era pelo sentimento de ser uma hóspede indesejada, incapaz de se integrar àquela vida.Ou pela perda da joia de jade.Ou ainda por ter entregue sua primeira vez a um desconhecido.De qualquer forma, nenhuma dessas situações era algo que ela já tivesse desejado.Ela não entendia por que a família Carvalho havia decidido aceitá-la de volta.“Aquele ali é a filha bastarda que a família Carvalho acabou de trazer de volta?”“Uma caipira do interior, como ela ousou participar da nossa reunião?”“Camila e Pedro sempre foram tão apaixonados, ninguém esperava que ele tivesse uma filha ilegítima fora de casa.”Desde o momento em que Alana apareceu, os comentários sussurrados não cessaram nem por um instante.Ela fingiu não ouvir, sentando-se calmamente em um canto, fitando silenciosamente o copo à sua frente.O líquido dourado parecia ainda mais profundo sob a luz tênue; os cubos de gelo embebidos em conhaque derretiam-se silenciosamente.Aquela reunião fora organizada por Daniel e Beatriz, com o propósito de apresentá-la ao círculo social deles.Inicialmente, Beatriz não aceitara a ideia, ninguém sabia como Camila a havia convencido, mas no final o evento foi realizado.Disseram que seria para ela conhecer as pessoas do círculo, mas durante toda a noite, ninguém lhe deu atenção.Bem, exceto no início.Beatriz, com seu tom sarcástico, zombou abertamente da sua origem, e todos os olhares dirigidos a Alana eram de deboche e desdém.Os comentários das garotas ao lado tornaram-se mais audíveis, quase apontando o dedo no rosto de Alana para falar mal dela.Insuportável.Alana levantou o olhar e sorriu para elas com doçura, seus olhos transmitiam bondade e serenidade, mas, inexplicavelmente, deixavam as outras inseguras.“Se as senhoritas têm tanto interesse na minha origem, eu posso levá-las à minha casa para perguntar aos meus parentes.”As duas garotas calaram-se a contragosto, desviando o olhar, sentindo-se culpadas.Apesar da situação embaraçosa de Alana,a família Carvalho era alguém que elas não podiam desafiar.Finalmente, o ambiente ficou mais tranquilo.Durante toda a festa, Beatriz circulou como uma borboleta, socializando com todos, mas seus olhares disfarçados sempre recaíam sobre Alana.Alana sabia que Beatriz fazia aquilo propositalmente.Quando um estranho invade um círculo fechado, sempre há quem tema pela própria posição, então encenam diante do novo membro o quão forte são seus laços.Alana achou aquilo um tanto risível; nunca pensara em se envolver com eles, tampouco em disputar o que quer que fosse.Mas, compreendia. Afinal, sua existência representava, para a família Carvalho e especialmente para Beatriz — tão mimada e certa do amor paterno — um golpe devastador.Porém, toda essa raiva e insegurança transformavam-se em armas afiadas, manifestadas por meio de palavras mordazes, que cortavam fundo.Aquele grupo era composto de amigos de infância dos irmãos Carvalho ou de pessoas que buscavam bajulá-los, naturalmente menosprezando Alana.Ao fim da reunião, Alana fora alvo de zombarias e indiretas de todos os tipos.“Ela veio do interior, nunca viu nada disso aqui. Não entende nem um pouco das nossas brincadeiras, deixa pra lá.”“Aos dezoito, quando veio para nossa casa, já queria ficar. Até hoje não desistiu! Ninguém sabe como conseguiu convencer meu pai, mas ele realmente a trouxe de volta para casa!”Alana ergueu levemente as pálpebras, observando Beatriz se vangloriar sem parar. Daniel interveio algumas vezes, mas, no fim, sempre mimou a irmã, deixando-a livre.Conversaram a noite inteira, sem se preocupar em ficar com sede.Nesse momento, um homem entrou pela porta. Imediatamente, Beatriz correu até ele como um míssil, os olhos semicerrados, as maçãs do rosto erguidas, e disse num tom meloso:“Venâncio, que bom que você veio~”Ao reconhecer quem era, Alana arregalou os olhos instantaneamente.O recém-chegado tinha postura elegante, entregou o paletó casualmente ao garçom.A camisa preta estava enfiada na calça social, moldando ombros largos, cintura fina e pernas longas. Dois botões abertos no colarinho deixavam entrever o peito definido.O olhar do homem era gélido, a expressão fria, exibindo ao máximo o ar de indolência e nobreza.Era justamente o homem com quem ela passara aquela noite.O primeiro pensamento de Alana foi —O garoto de programa a havia encontrado.Mas, ao ver todos se levantando para cumprimentá-lo, e diante do entusiasmo de Beatriz, Alana pensou —