Capítulo 1Cidade Deus, Mansão Platina, quarto.No mar vermelho dos lençóis, o homem beijava apaixonadamente a pinta no peito da mulher.Depois, Felipe Cruz virou-se e sentou-se na beira da cama."Vamos nos divorciar." A voz de Felipe não demonstrava nenhuma emoção.Cecília Guerra ainda ofegava do esforço.Ela se virou, perdida, encarando o olhar profundo dele.Já fazia um ano que estavam casados, mas ela não entendia o significado daquelas palavras."Ela está com câncer no estômago, só tem mais seis meses de vida."Felipe acendeu um cigarro, a fumaça subia e, em meio à névoa, seu rosto ficou indistinto."Ser minha esposa antes de morrer é o único desejo que ela tem."Cecília permaneceu em silêncio, o quarto amplo mergulhado em quietude.O pequeno abajur ao lado da cama lançava uma luz suave; as sombras dos dois se projetavam na parede, tão próximas, mas agora pareciam distantes.Talvez por perceber que ela não respondeu de imediato, ele franziu levemente a testa."É só para agradá-la."Ele disse: "Depois de seis meses, nós nos casamos de novo.""Cecília, ela só tem mais seis meses."A voz dele era tranquila, como se tudo aquilo não passasse de um aviso.Cecília olhava fixamente o perfil dele.Parecia que todas as exigências dele, ela precisava aceitar.Bastava ele pedir, ela obedecia como se fosse um decreto divino.Sim, o sentimento entre eles sempre fora conquistado por ela, a muito custo.A admiração de adolescência.A vida adulta seguindo sempre atrás dele.Naquele ano, durante uma tempestade, ele se colocou entre ela e o padrasto, segurando um pedaço de madeira, arriscando a vida para dizer: "Se ousar machucar a Cecília de novo, vai se arrepender!"Ela quase morreu de tanto apanhar, mas naquela noite, através da chuva torrencial e do sangue, viu a mão dele agarrada à madeira, os nós dos dedos brancos, e o olhar frio e determinado dele sob a tempestade.Ele salvou a vida dela.E foi assim que ela se apaixonou perdidamente por ele.Tudo o que ele pedia, ela fazia, dava tudo de si, melhor do que qualquer um.Depois que tudo dava certo, ele sempre afagava a cabeça dela e elogiava suavemente: "Cecília, você foi incrível."Mesmo que cada palavra e beijo dele fossem sempre superficiais, mesmo que o sentimento entre eles fosse sempre morno.Ela achava que era apenas o jeito dele.Por isso, mesmo que todos dissessem que ela se humilhava por amor, ela aceitava com prazer.Sete anos, toda a juventude, ela sempre esteve atrás dele.Um ano atrás, o patriarca da Família Cruz piorou de saúde, e os familiares decidiram que Felipe deveria se casar para alegrar a casa.Ele a procurou e a levou para registrar o casamento.Ela pensou que, depois de tantos anos, finalmente viveria um final feliz. Mas após o casamento, ele se afastou, até mesmo demonstrando certo desprezo por ela."Cecília, você está me ouvindo?"Parece que percebeu que ela estava distraída, e então franziu a testa para ela."Tem mesmo que ser assim?" Ela perguntou.Ele não respondeu diretamente. Desviou, dizendo: "Cecília, ela é digna de pena.""E eu?" Ela perguntou, instintivamente.Ele não respondeu de imediato, e um leve traço de impaciência surgiu em seu olhar profundo.Depois de três segundos, ele falou novamente."Cecília, ela está morrendo.""Talvez você não saiba, ela me ama, mas por causa do nosso casamento, não quer te machucar. Nunca passamos dos limites.""Mesmo quando quero lhe dar alguma coisa, ela sempre recusa.""Ela é muito bondosa, ceda por ela.""Cecília, não me faça achar que você é cruel."A voz dele era tão calma que parecia gélida, mas por dentro ela sentiu uma dor aguda.Afinal, envolver-se com um homem casado, dizendo algumas palavras hipócritas, era chamado de bondade.Enquanto uma esposa, não querer abrir mão do próprio marido, era chamado de crueldade.Ela olhou para o rosto dele, igual ao de anos atrás.Sobrancelhas profundas, olhos intensos, nariz marcante, lábios finos e afiados como a lâmina de uma espada.Quando foi que ele começou a mudar?Provavelmente desde o dia em que "ela" apareceu."Você tem certeza de que quer o divórcio?" Ela perguntou pela última vez.Ele não respondeu, os lábios comprimidos numa linha reta.Por fim, os lábios se entreabriram levemente.Ele disse: "Sim, você…""Tudo bem."Antes que ele pudesse continuar, ela já havia concordado.Ele ficou surpreso por um instante.Os olhos se estreitaram, lançando-lhe um olhar crítico."Cecília, você está ficando cada vez mais esperta."No tom de voz dele, havia uma raiva rara."Calculou o momento certo para me forçar? Está me chantageando?"Cecília permaneceu em silêncio, olhando fixamente para as sombras dos dois projetadas na parede branca.Felipe apagou o cigarro entre os dedos, não disse mais nada, vestiu-se apressadamente e saiu a passos largos.Parecia não se importar nem um pouco com o que ela sentiria, tampouco com o quão humilhante e inaceitável era o pedido que fizera.Porque ele sabia: ela não conseguiria viver sem ele.Durante todos esses anos, sempre fora assim."Pá!"Felipe bateu à porta e partiu.No quarto, restou apenas Cecília.Ela ficou olhando, em silêncio, para a porta fechada após a saída dele.Sentou-se à beira da cama por muito tempo."Bzzz."O celular vibrou, avisando uma mensagem.Alguém havia lhe escrito.Ela pegou o aparelho.A pessoa salva como "o perfil secundário dela" havia mandado uma mensagem.O perfil secundário dela: [Ele veio me ver de novo.]A imagem anexada mostrava o reflexo do rosto de Felipe no vidro da entrada.No rosto dele, havia um sorriso caloroso, e nos olhos, uma ternura que ela nunca vira.Os dedos de Cecília pararam por um instante, então ela rolou a tela para cima.A mensagem anterior era: [Ele disse que pensa em mim.]Antes disso: [Está frio nessa noite de chuva? Eu não sinto frio, porque ele está ao meu lado.]E mais uma antes: [Só quem não é amado é a "outra", Cecília. Você foi apenas a escolha forçada dele para trazer sorte, ele aprecia meu gosto, compartilha do meu estilo. A pessoa que ele ama sou eu.]...Eram muitas mensagens assim.Uma a uma, gota a gota, todas provas da traição dele.Ela nunca soubera que, durante sete anos de indiferença com ela, Felipe, diante de outra pessoa...Era tão cheio de vida.No fim, ela nem olhava mais, apenas rolava mecanicamente todas as conversas, até parar na primeira mensagem — [Você deve saber quem sou. Gostou das flores na sala hoje? Fui eu quem enviei, ele disse que estavam lindas.]Ah...É claro que sabia quem era.A famosa florista Geovana Batista, conhecida por decorar mansões e apartamentos de luxo em vários bairros nobres através de uma certa plataforma.Cecília já havia mostrado essas conversas a Felipe, mas ele dissera que ela não tinha provas de que era Geovana quem mandava as mensagens.Chegou até a suspeitar que ela mesma criava um perfil falso para incriminar Geovana.Afinal, raramente havia fotos nas mensagens, e, quando existiam, eram imagens que qualquer um poderia tirar de fora, como um observador.Exceto hoje.Deveria mostrar isso a Felipe?O celular foi largado de lado, Cecília abriu a gaveta mais baixa do criado-mudo e tirou um documento.Era o exame de gravidez que tinha recebido mais cedo naquele dia.Ela estava esperando um filho de Felipe.No pior momento possível.As lágrimas caíram sobre o papel, borrando tudo.O coração dele já não lhe pertencia fazia tempo. E mesmo que provasse alguma coisa, de que adiantaria?Enxugou as lágrimas.Cecília pegou o isqueiro que Felipe usara para acender o cigarro e queimou o documento.Ele não sabia, mas o divórcio seria a última vez em que ela atenderia a um pedido dele.Sete anos de juventude, sete anos de vida.A gratidão por tudo que ele fizera, ela já retribuíra o suficiente.E ela… não o amaria mais.No dia seguinte.No estacionamento em frente ao cartório.Felipe estava sentado em seu Maybach, batucando levemente no volante com a mão esquerda."Meu filho, você e a Cecília já estão casados há um ano, é hora de pensar em ter um filho", veio a voz de uma senhora idosa pelo telefone.O rosto de Felipe suavizou-se, demonstrando um certo cansaço, mas também muita paciência.Ele respondeu: "Vovó, nós ainda somos jovens, não precisa ter pressa. O que a senhora precisa fazer agora é cuidar bem da sua saúde, e também do vovô, ele...""Como é que não vou me preocupar?" a idosa interrompeu. "Seu avô está melhor agora, mas nós já estamos velhos, ninguém sabe o dia de amanhã.""Vovó..."Ela ficou séria: "E não venha me enrolar, ouvi uns boatos por aí, e você não pode maltratar a Cecília."Felipe ficou em silêncio por três segundos.Só quando a senhora insistiu: "Está me ouvindo?"Ele massageou a testa e respondeu: "Sim, vovó, eu sei."Trocaram ainda algumas palavras antes de Felipe desligar o telefone.Seus dedos continuavam a bater distraidamente no volante enquanto ele olhava na direção do cartório.Apertou os lábios.Abriu a lista de mensagens no celular.Deslizou os dedos sobre o contato da florista, salvo como "Meu Amor", até chegar ao chat com "Cecília".A última mensagem era dele, avisando o horário e o local para se encontrarem naquela manhã no cartório para tratarem do divórcio.Ela ainda não tinha chegado.Com uma leve carranca, Felipe enviou uma mensagem:Felipe: [Onde está?]No instante seguinte, alguém bateu no vidro do carro, e Felipe viu o rosto um pouco pálido de Cecília do lado de fora.Cecília abriu a porta e sentou-se no banco do passageiro.Ela lançou um olhar para ele.Usava ainda a mesma roupa do dia anterior, que ela mesma havia escolhido.Durante todos esses anos, tudo dele era preparado por ela, desde o perfume e a gravata, até as camisas e ternos feitos sob medida, tudo era cuidado por suas mãos."Por que demorou tanto?" ele perguntou.Cecília desviou o olhar."Não estou atrasada", respondeu.Já não era mais como antes, quando ela esperava ansiosamente por qualquer palavra dele.A mão de Felipe, que batucava inconscientemente, parou por um instante, e ele franziu a testa ao encará-la.Ela parecia mais pálida, provavelmente não dormira direito depois que ele mencionou o divórcio na noite anterior.Mas isso não era nada grave."Minha avó acabou de me ligar", Felipe disse, desviando o olhar. "Não conte nada sobre nosso divórcio para os idosos. Eles já estão velhos, não suportariam esse tipo de choque."Cecília não respondeu de imediato e apenas perguntou: "O que ela disse no telefone?""Que está querendo um neto", os olhos de Felipe se semicerraram, deixando transparecer uma ponta de impaciência.Seguiu-se um longo silêncio.Passaram-se alguns minutos até que, por fim, Cecília soltou uma risada suave.Felipe fechou a mão esquerda num punho, olhando para fora da janela, em silêncio.Ele já tinha pensado em como seria seu filho, quando nasceria.Durante os momentos de intimidade com Cecília, ele já acariciara sua barriga, sussurrando em seu ouvido: "Cecília, quando é que você vai me dar um filho?"Mas...De qualquer forma, ela nunca engravidou.Iriam se casar de novo em seis meses, não faria diferença.Geovana só tinha mais seis meses.Do lado de fora, pessoas iam e vinham; mais uns três segundos se passaram.Cecília falou: "Pela última vez, Felipe, você quer mesmo se divorciar de mim?""Está querendo voltar atrás?" Desta vez, ele estava realmente irritado.Geovana ainda o esperava em casa.Diante da confirmação dele, Cecília não disse mais nada; apenas tirou um documento e o entregou a Felipe.Felipe pegou, franzindo o cenho. Era um acordo de partilha de bens.Capítulo 2Cidade Deus, Mansão Platina, quarto.No mar vermelho dos lençóis, o homem beijava apaixonadamente a pinta no peito da mulher.Depois, Felipe Cruz virou-se e sentou-se na beira da cama."Vamos nos divorciar." A voz de Felipe não demonstrava nenhuma emoção.Cecília Guerra ainda ofegava do esforço.Ela se virou, perdida, encarando o olhar profundo dele.Já fazia um ano que estavam casados, mas ela não entendia o significado daquelas palavras."Ela está com câncer no estômago, só tem mais seis meses de vida."Felipe acendeu um cigarro, a fumaça subia e, em meio à névoa, seu rosto ficou indistinto."Ser minha esposa antes de morrer é o único desejo que ela tem."Cecília permaneceu em silêncio, o quarto amplo mergulhado em quietude.O pequeno abajur ao lado da cama lançava uma luz suave; as sombras dos dois se projetavam na parede, tão próximas, mas agora pareciam distantes.Talvez por perceber que ela não respondeu de imediato, ele franziu levemente a testa."É só para agradá-la."Ele disse: "Depois de seis meses, nós nos casamos de novo.""Cecília, ela só tem mais seis meses."A voz dele era tranquila, como se tudo aquilo não passasse de um aviso.Cecília olhava fixamente o perfil dele.Parecia que todas as exigências dele, ela precisava aceitar.Bastava ele pedir, ela obedecia como se fosse um decreto divino.Sim, o sentimento entre eles sempre fora conquistado por ela, a muito custo.A admiração de adolescência.A vida adulta seguindo sempre atrás dele.Naquele ano, durante uma tempestade, ele se colocou entre ela e o padrasto, segurando um pedaço de madeira, arriscando a vida para dizer: "Se ousar machucar a Cecília de novo, vai se arrepender!"Ela quase morreu de tanto apanhar, mas naquela noite, através da chuva torrencial e do sangue, viu a mão dele agarrada à madeira, os nós dos dedos brancos, e o olhar frio e determinado dele sob a tempestade.Ele salvou a vida dela.E foi assim que ela se apaixonou perdidamente por ele.Tudo o que ele pedia, ela fazia, dava tudo de si, melhor do que qualquer um.Depois que tudo dava certo, ele sempre afagava a cabeça dela e elogiava suavemente: "Cecília, você foi incrível."Mesmo que cada palavra e beijo dele fossem sempre superficiais, mesmo que o sentimento entre eles fosse sempre morno.Ela achava que era apenas o jeito dele.Por isso, mesmo que todos dissessem que ela se humilhava por amor, ela aceitava com prazer.Sete anos, toda a juventude, ela sempre esteve atrás dele.Um ano atrás, o patriarca da Família Cruz piorou de saúde, e os familiares decidiram que Felipe deveria se casar para alegrar a casa.Ele a procurou e a levou para registrar o casamento.Ela pensou que, depois de tantos anos, finalmente viveria um final feliz. Mas após o casamento, ele se afastou, até mesmo demonstrando certo desprezo por ela."Cecília, você está me ouvindo?"Parece que percebeu que ela estava distraída, e então franziu a testa para ela."Tem mesmo que ser assim?" Ela perguntou.Ele não respondeu diretamente. Desviou, dizendo: "Cecília, ela é digna de pena.""E eu?" Ela perguntou, instintivamente.Ele não respondeu de imediato, e um leve traço de impaciência surgiu em seu olhar profundo.Depois de três segundos, ele falou novamente."Cecília, ela está morrendo.""Talvez você não saiba, ela me ama, mas por causa do nosso casamento, não quer te machucar. Nunca passamos dos limites.""Mesmo quando quero lhe dar alguma coisa, ela sempre recusa.""Ela é muito bondosa, ceda por ela.""Cecília, não me faça achar que você é cruel."A voz dele era tão calma que parecia gélida, mas por dentro ela sentiu uma dor aguda.Afinal, envolver-se com um homem casado, dizendo algumas palavras hipócritas, era chamado de bondade.Enquanto uma esposa, não querer abrir mão do próprio marido, era chamado de crueldade.Ela olhou para o rosto dele, igual ao de anos atrás.Sobrancelhas profundas, olhos intensos, nariz marcante, lábios finos e afiados como a lâmina de uma espada.Quando foi que ele começou a mudar?Provavelmente desde o dia em que "ela" apareceu."Você tem certeza de que quer o divórcio?" Ela perguntou pela última vez.Ele não respondeu, os lábios comprimidos numa linha reta.Por fim, os lábios se entreabriram levemente.Ele disse: "Sim, você…""Tudo bem."Antes que ele pudesse continuar, ela já havia concordado.Ele ficou surpreso por um instante.Os olhos se estreitaram, lançando-lhe um olhar crítico."Cecília, você está ficando cada vez mais esperta."No tom de voz dele, havia uma raiva rara."Calculou o momento certo para me forçar? Está me chantageando?"Cecília permaneceu em silêncio, olhando fixamente para as sombras dos dois projetadas na parede branca.Felipe apagou o cigarro entre os dedos, não disse mais nada, vestiu-se apressadamente e saiu a passos largos.Parecia não se importar nem um pouco com o que ela sentiria, tampouco com o quão humilhante e inaceitável era o pedido que fizera.Porque ele sabia: ela não conseguiria viver sem ele.Durante todos esses anos, sempre fora assim."Pá!"Felipe bateu à porta e partiu.No quarto, restou apenas Cecília.Ela ficou olhando, em silêncio, para a porta fechada após a saída dele.Sentou-se à beira da cama por muito tempo."Bzzz."O celular vibrou, avisando uma mensagem.Alguém havia lhe escrito.Ela pegou o aparelho.A pessoa salva como "o perfil secundário dela" havia mandado uma mensagem.O perfil secundário dela: [Ele veio me ver de novo.]A imagem anexada mostrava o reflexo do rosto de Felipe no vidro da entrada.No rosto dele, havia um sorriso caloroso, e nos olhos, uma ternura que ela nunca vira.Os dedos de Cecília pararam por um instante, então ela rolou a tela para cima.A mensagem anterior era: [Ele disse que pensa em mim.]Antes disso: [Está frio nessa noite de chuva? Eu não sinto frio, porque ele está ao meu lado.]E mais uma antes: [Só quem não é amado é a "outra", Cecília. Você foi apenas a escolha forçada dele para trazer sorte, ele aprecia meu gosto, compartilha do meu estilo. A pessoa que ele ama sou eu.]...Eram muitas mensagens assim.Uma a uma, gota a gota, todas provas da traição dele.Ela nunca soubera que, durante sete anos de indiferença com ela, Felipe, diante de outra pessoa...Era tão cheio de vida.No fim, ela nem olhava mais, apenas rolava mecanicamente todas as conversas, até parar na primeira mensagem — [Você deve saber quem sou. Gostou das flores na sala hoje? Fui eu quem enviei, ele disse que estavam lindas.]Ah...É claro que sabia quem era.A famosa florista Geovana Batista, conhecida por decorar mansões e apartamentos de luxo em vários bairros nobres através de uma certa plataforma.Cecília já havia mostrado essas conversas a Felipe, mas ele dissera que ela não tinha provas de que era Geovana quem mandava as mensagens.Chegou até a suspeitar que ela mesma criava um perfil falso para incriminar Geovana.Afinal, raramente havia fotos nas mensagens, e, quando existiam, eram imagens que qualquer um poderia tirar de fora, como um observador.Exceto hoje.Deveria mostrar isso a Felipe?O celular foi largado de lado, Cecília abriu a gaveta mais baixa do criado-mudo e tirou um documento.Era o exame de gravidez que tinha recebido mais cedo naquele dia.Ela estava esperando um filho de Felipe.No pior momento possível.As lágrimas caíram sobre o papel, borrando tudo.O coração dele já não lhe pertencia fazia tempo. E mesmo que provasse alguma coisa, de que adiantaria?Enxugou as lágrimas.Cecília pegou o isqueiro que Felipe usara para acender o cigarro e queimou o documento.Ele não sabia, mas o divórcio seria a última vez em que ela atenderia a um pedido dele.Sete anos de juventude, sete anos de vida.A gratidão por tudo que ele fizera, ela já retribuíra o suficiente.E ela… não o amaria mais.No dia seguinte.No estacionamento em frente ao cartório.Felipe estava sentado em seu Maybach, batucando levemente no volante com a mão esquerda."Meu filho, você e a Cecília já estão casados há um ano, é hora de pensar em ter um filho", veio a voz de uma senhora idosa pelo telefone.O rosto de Felipe suavizou-se, demonstrando um certo cansaço, mas também muita paciência.Ele respondeu: "Vovó, nós ainda somos jovens, não precisa ter pressa. O que a senhora precisa fazer agora é cuidar bem da sua saúde, e também do vovô, ele...""Como é que não vou me preocupar?" a idosa interrompeu. "Seu avô está melhor agora, mas nós já estamos velhos, ninguém sabe o dia de amanhã.""Vovó..."Ela ficou séria: "E não venha me enrolar, ouvi uns boatos por aí, e você não pode maltratar a Cecília."Felipe ficou em silêncio por três segundos.Só quando a senhora insistiu: "Está me ouvindo?"Ele massageou a testa e respondeu: "Sim, vovó, eu sei."Trocaram ainda algumas palavras antes de Felipe desligar o telefone.Seus dedos continuavam a bater distraidamente no volante enquanto ele olhava na direção do cartório.Apertou os lábios.Abriu a lista de mensagens no celular.Deslizou os dedos sobre o contato da florista, salvo como "Meu Amor", até chegar ao chat com "Cecília".A última mensagem era dele, avisando o horário e o local para se encontrarem naquela manhã no cartório para tratarem do divórcio.Ela ainda não tinha chegado.Com uma leve carranca, Felipe enviou uma mensagem:Felipe: [Onde está?]No instante seguinte, alguém bateu no vidro do carro, e Felipe viu o rosto um pouco pálido de Cecília do lado de fora.Cecília abriu a porta e sentou-se no banco do passageiro.Ela lançou um olhar para ele.Usava ainda a mesma roupa do dia anterior, que ela mesma havia escolhido.Durante todos esses anos, tudo dele era preparado por ela, desde o perfume e a gravata, até as camisas e ternos feitos sob medida, tudo era cuidado por suas mãos."Por que demorou tanto?" ele perguntou.Cecília desviou o olhar."Não estou atrasada", respondeu.Já não era mais como antes, quando ela esperava ansiosamente por qualquer palavra dele.A mão de Felipe, que batucava inconscientemente, parou por um instante, e ele franziu a testa ao encará-la.Ela parecia mais pálida, provavelmente não dormira direito depois que ele mencionou o divórcio na noite anterior.Mas isso não era nada grave."Minha avó acabou de me ligar", Felipe disse, desviando o olhar. "Não conte nada sobre nosso divórcio para os idosos. Eles já estão velhos, não suportariam esse tipo de choque."Cecília não respondeu de imediato e apenas perguntou: "O que ela disse no telefone?""Que está querendo um neto", os olhos de Felipe se semicerraram, deixando transparecer uma ponta de impaciência.Seguiu-se um longo silêncio.Passaram-se alguns minutos até que, por fim, Cecília soltou uma risada suave.Felipe fechou a mão esquerda num punho, olhando para fora da janela, em silêncio.Ele já tinha pensado em como seria seu filho, quando nasceria.Durante os momentos de intimidade com Cecília, ele já acariciara sua barriga, sussurrando em seu ouvido: "Cecília, quando é que você vai me dar um filho?"Mas...De qualquer forma, ela nunca engravidou.Iriam se casar de novo em seis meses, não faria diferença.Geovana só tinha mais seis meses.Do lado de fora, pessoas iam e vinham; mais uns três segundos se passaram.Cecília falou: "Pela última vez, Felipe, você quer mesmo se divorciar de mim?""Está querendo voltar atrás?" Desta vez, ele estava realmente irritado.Geovana ainda o esperava em casa.Diante da confirmação dele, Cecília não disse mais nada; apenas tirou um documento e o entregou a Felipe.Felipe pegou, franzindo o cenho. Era um acordo de partilha de bens.Capítulo 3Cidade Deus, Mansão Platina, quarto.No mar vermelho dos lençóis, o homem beijava apaixonadamente a pinta no peito da mulher.Depois, Felipe Cruz virou-se e sentou-se na beira da cama."Vamos nos divorciar." A voz de Felipe não demonstrava nenhuma emoção.Cecília Guerra ainda ofegava do esforço.Ela se virou, perdida, encarando o olhar profundo dele.Já fazia um ano que estavam casados, mas ela não entendia o significado daquelas palavras."Ela está com câncer no estômago, só tem mais seis meses de vida."Felipe acendeu um cigarro, a fumaça subia e, em meio à névoa, seu rosto ficou indistinto."Ser minha esposa antes de morrer é o único desejo que ela tem."Cecília permaneceu em silêncio, o quarto amplo mergulhado em quietude.O pequeno abajur ao lado da cama lançava uma luz suave; as sombras dos dois se projetavam na parede, tão próximas, mas agora pareciam distantes.Talvez por perceber que ela não respondeu de imediato, ele franziu levemente a testa."É só para agradá-la."Ele disse: "Depois de seis meses, nós nos casamos de novo.""Cecília, ela só tem mais seis meses."A voz dele era tranquila, como se tudo aquilo não passasse de um aviso.Cecília olhava fixamente o perfil dele.Parecia que todas as exigências dele, ela precisava aceitar.Bastava ele pedir, ela obedecia como se fosse um decreto divino.Sim, o sentimento entre eles sempre fora conquistado por ela, a muito custo.A admiração de adolescência.A vida adulta seguindo sempre atrás dele.Naquele ano, durante uma tempestade, ele se colocou entre ela e o padrasto, segurando um pedaço de madeira, arriscando a vida para dizer: "Se ousar machucar a Cecília de novo, vai se arrepender!"Ela quase morreu de tanto apanhar, mas naquela noite, através da chuva torrencial e do sangue, viu a mão dele agarrada à madeira, os nós dos dedos brancos, e o olhar frio e determinado dele sob a tempestade.Ele salvou a vida dela.E foi assim que ela se apaixonou perdidamente por ele.Tudo o que ele pedia, ela fazia, dava tudo de si, melhor do que qualquer um.Depois que tudo dava certo, ele sempre afagava a cabeça dela e elogiava suavemente: "Cecília, você foi incrível."Mesmo que cada palavra e beijo dele fossem sempre superficiais, mesmo que o sentimento entre eles fosse sempre morno.Ela achava que era apenas o jeito dele.Por isso, mesmo que todos dissessem que ela se humilhava por amor, ela aceitava com prazer.Sete anos, toda a juventude, ela sempre esteve atrás dele.Um ano atrás, o patriarca da Família Cruz piorou de saúde, e os familiares decidiram que Felipe deveria se casar para alegrar a casa.Ele a procurou e a levou para registrar o casamento.Ela pensou que, depois de tantos anos, finalmente viveria um final feliz. Mas após o casamento, ele se afastou, até mesmo demonstrando certo desprezo por ela."Cecília, você está me ouvindo?"Parece que percebeu que ela estava distraída, e então franziu a testa para ela."Tem mesmo que ser assim?" Ela perguntou.Ele não respondeu diretamente. Desviou, dizendo: "Cecília, ela é digna de pena.""E eu?" Ela perguntou, instintivamente.Ele não respondeu de imediato, e um leve traço de impaciência surgiu em seu olhar profundo.Depois de três segundos, ele falou novamente."Cecília, ela está morrendo.""Talvez você não saiba, ela me ama, mas por causa do nosso casamento, não quer te machucar. Nunca passamos dos limites.""Mesmo quando quero lhe dar alguma coisa, ela sempre recusa.""Ela é muito bondosa, ceda por ela.""Cecília, não me faça achar que você é cruel."A voz dele era tão calma que parecia gélida, mas por dentro ela sentiu uma dor aguda.Afinal, envolver-se com um homem casado, dizendo algumas palavras hipócritas, era chamado de bondade.Enquanto uma esposa, não querer abrir mão do próprio marido, era chamado de crueldade.Ela olhou para o rosto dele, igual ao de anos atrás.Sobrancelhas profundas, olhos intensos, nariz marcante, lábios finos e afiados como a lâmina de uma espada.Quando foi que ele começou a mudar?Provavelmente desde o dia em que "ela" apareceu."Você tem certeza de que quer o divórcio?" Ela perguntou pela última vez.Ele não respondeu, os lábios comprimidos numa linha reta.Por fim, os lábios se entreabriram levemente.Ele disse: "Sim, você…""Tudo bem."Antes que ele pudesse continuar, ela já havia concordado.Ele ficou surpreso por um instante.Os olhos se estreitaram, lançando-lhe um olhar crítico."Cecília, você está ficando cada vez mais esperta."No tom de voz dele, havia uma raiva rara."Calculou o momento certo para me forçar? Está me chantageando?"Cecília permaneceu em silêncio, olhando fixamente para as sombras dos dois projetadas na parede branca.Felipe apagou o cigarro entre os dedos, não disse mais nada, vestiu-se apressadamente e saiu a passos largos.Parecia não se importar nem um pouco com o que ela sentiria, tampouco com o quão humilhante e inaceitável era o pedido que fizera.Porque ele sabia: ela não conseguiria viver sem ele.Durante todos esses anos, sempre fora assim."Pá!"Felipe bateu à porta e partiu.No quarto, restou apenas Cecília.Ela ficou olhando, em silêncio, para a porta fechada após a saída dele.Sentou-se à beira da cama por muito tempo."Bzzz."O celular vibrou, avisando uma mensagem.Alguém havia lhe escrito.Ela pegou o aparelho.A pessoa salva como "o perfil secundário dela" havia mandado uma mensagem.O perfil secundário dela: [Ele veio me ver de novo.]A imagem anexada mostrava o reflexo do rosto de Felipe no vidro da entrada.No rosto dele, havia um sorriso caloroso, e nos olhos, uma ternura que ela nunca vira.Os dedos de Cecília pararam por um instante, então ela rolou a tela para cima.A mensagem anterior era: [Ele disse que pensa em mim.]Antes disso: [Está frio nessa noite de chuva? Eu não sinto frio, porque ele está ao meu lado.]E mais uma antes: [Só quem não é amado é a "outra", Cecília. Você foi apenas a escolha forçada dele para trazer sorte, ele aprecia meu gosto, compartilha do meu estilo. A pessoa que ele ama sou eu.]...Eram muitas mensagens assim.Uma a uma, gota a gota, todas provas da traição dele.Ela nunca soubera que, durante sete anos de indiferença com ela, Felipe, diante de outra pessoa...Era tão cheio de vida.No fim, ela nem olhava mais, apenas rolava mecanicamente todas as conversas, até parar na primeira mensagem — [Você deve saber quem sou. Gostou das flores na sala hoje? Fui eu quem enviei, ele disse que estavam lindas.]Ah...É claro que sabia quem era.A famosa florista Geovana Batista, conhecida por decorar mansões e apartamentos de luxo em vários bairros nobres através de uma certa plataforma.Cecília já havia mostrado essas conversas a Felipe, mas ele dissera que ela não tinha provas de que era Geovana quem mandava as mensagens.Chegou até a suspeitar que ela mesma criava um perfil falso para incriminar Geovana.Afinal, raramente havia fotos nas mensagens, e, quando existiam, eram imagens que qualquer um poderia tirar de fora, como um observador.Exceto hoje.Deveria mostrar isso a Felipe?O celular foi largado de lado, Cecília abriu a gaveta mais baixa do criado-mudo e tirou um documento.Era o exame de gravidez que tinha recebido mais cedo naquele dia.Ela estava esperando um filho de Felipe.No pior momento possível.As lágrimas caíram sobre o papel, borrando tudo.O coração dele já não lhe pertencia fazia tempo. E mesmo que provasse alguma coisa, de que adiantaria?Enxugou as lágrimas.Cecília pegou o isqueiro que Felipe usara para acender o cigarro e queimou o documento.Ele não sabia, mas o divórcio seria a última vez em que ela atenderia a um pedido dele.Sete anos de juventude, sete anos de vida.A gratidão por tudo que ele fizera, ela já retribuíra o suficiente.E ela… não o amaria mais.No dia seguinte.No estacionamento em frente ao cartório.Felipe estava sentado em seu Maybach, batucando levemente no volante com a mão esquerda."Meu filho, você e a Cecília já estão casados há um ano, é hora de pensar em ter um filho", veio a voz de uma senhora idosa pelo telefone.O rosto de Felipe suavizou-se, demonstrando um certo cansaço, mas também muita paciência.Ele respondeu: "Vovó, nós ainda somos jovens, não precisa ter pressa. O que a senhora precisa fazer agora é cuidar bem da sua saúde, e também do vovô, ele...""Como é que não vou me preocupar?" a idosa interrompeu. "Seu avô está melhor agora, mas nós já estamos velhos, ninguém sabe o dia de amanhã.""Vovó..."Ela ficou séria: "E não venha me enrolar, ouvi uns boatos por aí, e você não pode maltratar a Cecília."Felipe ficou em silêncio por três segundos.Só quando a senhora insistiu: "Está me ouvindo?"Ele massageou a testa e respondeu: "Sim, vovó, eu sei."Trocaram ainda algumas palavras antes de Felipe desligar o telefone.Seus dedos continuavam a bater distraidamente no volante enquanto ele olhava na direção do cartório.Apertou os lábios.Abriu a lista de mensagens no celular.Deslizou os dedos sobre o contato da florista, salvo como "Meu Amor", até chegar ao chat com "Cecília".A última mensagem era dele, avisando o horário e o local para se encontrarem naquela manhã no cartório para tratarem do divórcio.Ela ainda não tinha chegado.Com uma leve carranca, Felipe enviou uma mensagem:Felipe: [Onde está?]No instante seguinte, alguém bateu no vidro do carro, e Felipe viu o rosto um pouco pálido de Cecília do lado de fora.Cecília abriu a porta e sentou-se no banco do passageiro.Ela lançou um olhar para ele.Usava ainda a mesma roupa do dia anterior, que ela mesma havia escolhido.Durante todos esses anos, tudo dele era preparado por ela, desde o perfume e a gravata, até as camisas e ternos feitos sob medida, tudo era cuidado por suas mãos."Por que demorou tanto?" ele perguntou.Cecília desviou o olhar."Não estou atrasada", respondeu.Já não era mais como antes, quando ela esperava ansiosamente por qualquer palavra dele.A mão de Felipe, que batucava inconscientemente, parou por um instante, e ele franziu a testa ao encará-la.Ela parecia mais pálida, provavelmente não dormira direito depois que ele mencionou o divórcio na noite anterior.Mas isso não era nada grave."Minha avó acabou de me ligar", Felipe disse, desviando o olhar. "Não conte nada sobre nosso divórcio para os idosos. Eles já estão velhos, não suportariam esse tipo de choque."Cecília não respondeu de imediato e apenas perguntou: "O que ela disse no telefone?""Que está querendo um neto", os olhos de Felipe se semicerraram, deixando transparecer uma ponta de impaciência.Seguiu-se um longo silêncio.Passaram-se alguns minutos até que, por fim, Cecília soltou uma risada suave.Felipe fechou a mão esquerda num punho, olhando para fora da janela, em silêncio.Ele já tinha pensado em como seria seu filho, quando nasceria.Durante os momentos de intimidade com Cecília, ele já acariciara sua barriga, sussurrando em seu ouvido: "Cecília, quando é que você vai me dar um filho?"Mas...De qualquer forma, ela nunca engravidou.Iriam se casar de novo em seis meses, não faria diferença.Geovana só tinha mais seis meses.Do lado de fora, pessoas iam e vinham; mais uns três segundos se passaram.Cecília falou: "Pela última vez, Felipe, você quer mesmo se divorciar de mim?""Está querendo voltar atrás?" Desta vez, ele estava realmente irritado.Geovana ainda o esperava em casa.Diante da confirmação dele, Cecília não disse mais nada; apenas tirou um documento e o entregou a Felipe.Felipe pegou, franzindo o cenho. Era um acordo de partilha de bens.